Em carta, líder do MST pede apuração de morte de sem-terras em PE

Em carta dirigida ao governador reeleito de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), o dirigente do MST, Jaime Amorim, apela ao governador para que se investigue com profundidade o assassinato de lideranças camponesas no Estado. A última vítima da pistolagem latifundiária foi Cícero de Lima Costa, o Betão, 42, vice-presidente da cooperativa do assentamento Catalunha.

Charge Latuff

Leia, abaixo, a íntegra da carta:

Há uma autorização para Matar

Caro Governador de Pernambuco, Paulo Câmara

Creio que o Senhor deve ter acompanhado o assassinato de forma brutal do companheiro Cícero de Lima Costa, conhecido como Betão. Tinha 42 anos, era casado com uma educadora e deixa dois filhos. Betão vivia com a família no assentamento Catalunha, em Santa Maria da Boa Vista-PE, que ocupou em 1996, onde lutou e conquistou frutos, e onde vivia de seu trabalho, no lote que possuía até na véspera de natal dia 21 de dezembro deste ano de 2018, quando foi assassinado por pistoleiros quando chegava de lotação ao assentamento.

O assentamento Catalunha, com 608 famílias é o maior assentamento em número de famílias assentadas de Pernambuco. Nos últimos anos, quatro presidentes da cooperativa do assentamento foram assassinados. Betão era o atual vice-presidente. O clima de tensão na área é muito grande. Não se sabe quem vai ser a próxima vitima da pistolagem.

O clima de insegurança se agravou nessa conjuntura. Eles declaram a temporada de caça às lideranças camponesas, que poderá se acentuar com a posse do presidente eleito, que continua contaminando a sociedade com ódio e Intolerância.

Percebe-se no “ar” a autorização para matar integrantes do Movimento Sem Terra: no Pará, na Paraíba e agora em Pernambuco. A intolerância contra a Reforma Agrária e o ódio pregado contra índios, quilombolas e Sem Terras, e em defesa do latifúndio, aliado à certeza da impunidade, e até à condecoração de assassinos, poderá motivar uma onda de violência no campo, sobremaneira contra as lideranças.

Visando a combater esse sentimento de impunidade que se alastra e a garantir que os assassinos sejam identificados e punidos na forma da lei é que solicitamos ao governo do estado de Pernambuco que investigue com celeridade o assassinato do companheiro Betão. Tal medida, além de ser uma responsabilidade mandamental (da essência) ordinária do Estado, é a forma de punir e impedir que os caçadores de Sem-Terra continuem agindo em suas empreitadas criminosas, como ocorrido na Paraíba.

A fim de viabilizar a eficácia das investigações sugerimos, ao governo de Pernambuco a indicação de um delegado especial para investigar o assassinato do companheiro Betão, até que os assassinos e os mandantes sejam identificados e julgados e condenados na forma da Lei.

Na certeza e convicção de seu Empenho.

Pela Direção do MST
Jaime Amorim

Fonte: DCM