Unegro repudia o assassinato de Dinho, em Sorocaba

A União de Negros e Negras Pela Igualdade (UNEGRO) divulgou, nesta segunda-feira, nota em que manifesta pesar pelo assassinato de Milton Expedito do Nascimento, o Dinho, ocorrido em Sorocaba,neste domingo (23). Dinho foi morto por policiais militares e a Unegro cobra rigorosa apuração e punição dos responsáveis.

Dinho Unegro

Leia a íntegra da nota:

Nota da UNEGRO sobre o assassinato de Dinho (Milton Expedito do Nascimento)

A União de Negros e Negras Pela Igualdade (UNEGRO) manifesta seu profundo pesar e forte indignação com assassinato de Dinho (Milton Expedito do Nascimento), 33 anos, no dia 23 de dezembro, em Sorocaba/SP. Revolta-nos ainda mais que o projétil que ceifou sua vida foi covardemente desferido pela Polícia Militar, a quem cabe a responsabilidade de proteger os cidadãos. Causa-nos repulsa a tentativa da Polícia Militar justificar a brutal execução com uma narrativa inverossímil. É dever constitucional dessa instituição preservar a dignidade da pessoa humana, a integridade física e a vida. A Constituição Brasileira, promulgada em 1988, não prevê a pena de morte. O assassinato indiscriminado por agente do Estado se constitui na maior agressão ao Estado de Direito e viola fortemente nossa Carta Maior.

Dinho era um jovem engajado em projetos sociais, trabalhava no PROCON, era da direção da Rádio Comunitária Cultural FM, onde mantinha um programa todos os domingos, tinha forte envolvimento com a cultura hip hop e compunha a Direção Municipal da UNEGRO de Sorocaba.

O sistema de segurança pública, ideologicamente forjado pela elite socioeconômica brasileira, ainda não abandonou o projeto de extermínio programado da população negra. Segundo o Atlas da Violência de 2018, o Brasil acumula 325 mil vítimas de assassinados em 11 anos, desses 94% são jovens de 15 a 29 anos, desses 77% são negros. Para UNEGRO o assassinato de Dinho compõe um triste cenário que denunciamos reiteradamente há 30 anos: o racismo é um instrumento de morte, por isso, determina o negro como suspeito padrão.

Vemos o crescente assassinato de lideranças negras: Marielle Franco, Moa de Katendê, Charlione Albuquerque e Milton Dinho, ao mesmo tempo cresce assassinatos de LGBTs e de mulheres. A onda conservadora e de ódio que invadiu o Brasil, tomou a Presidência da República e tenta acuar os defensores de direitos, não silenciará a UNEGRO, o movimento negro e os movimentos sociais brasileiros. Continuaremos defendendo a vida, com justiça social.

Exigimos total atenção das autoridades às testemunhas, alertamos para denuncia de tentativa de coação, realizada por policiais em Sorocaba.

Exigimos imediato afastamento dos envolvidos e abertura de inquérito para apurar as responsabilidades e punir em conformidade com a Lei.

Exigimos indenização e proteção aos familiares.

Estaremos atentos aos procedimentos que serão adotados pelas autoridades.

Convocamos todos os amigos e amigas da UNEGRO, lutadoras e lutadores sociais, democratas e religiosos a reforçar a denuncia e pressionar o Estado para que cumpra seu papel.

Manifestamos nossa solidariedade com os familiares, com a UNEGRO e o movimento negro de Sorocaba.

São Paulo, 24 de dezembro de 2018