Extrema-direita tumultua diplomações e ameaça confronto em 2019

As cerimônias de diplomação, festivas e protocolares, vinham ocorrendo sem incidentes até este ano. Mas a ascensão da extrema-direita ao poder acabou criando um clima de ódio à esquerda que descambou para a agressão em diferentes estados. Os episódios, protagonizados por parlamentares cujo comportamento beira o fascismo, acendem um sinal de alerta sobre o clima de hostilidade que o parlamento brasileiro viverá a partir de janeiro.

Alexandre Frota - Reprodução

Nesta semana, na maioria dos Estados brasileiros, ocorreram as diplomações dos candidatos eleitos em 2018. Governadores e seus vices, senadores, deputados estaduais e federais receberam dos respectivos Tribunais Regionais Eleitorais os diplomas que os capacitam a assumir os mandatos em 2019.

Até este ano, pouco se ouvia falar destas cerimônias pois costumavam ser meros atos protocolares nos quais se cumpria uma das muitas etapas do processo eleitoral. Mas a ascensão da extrema-direita ao poder nas eleições de outubro de 2018 parece ter contaminado até os ambientes mais protocolares da convivência política. Após uma campanha movida a fake news e muito discurso de ódio contra os adversários, sobretudo contra a esquerda, a extrema-direita fanática não se constrangeu em transformar também as cerimônias de diplomação em verdadeiros ringues, com direito a agressões verbais e físicas.

O primeiro episódio grotesco ocorreu na diplomação dos candidatos de São Paulo, na terça-feira (18), quando o deputado federal eleito pelo PSL de Bolsonaro, Alexandre Frota, agrediu o militante do movimento negro Jesus dos Santos, pelo simples motivo deste ter subido no palco onde os parlamentares eleitos estavam recebendo seus diplomas. Santos é membro da chamada bancada ativista do PSOL e acompanhava suas colegas eleitas em mandato coletivo. (leia mais aqui)

No Rio Grande do Sul, mais hostilidade. Parlamentares de direita e seus convidados comportaram-se como verdadeiros holligans ao vaiar histericamente, xingar e desrespeitar a diplomação de políticos de partidos de esquerda.

A antropóloga Rosana Pinheiro Machado publicou uma tread (sequência de postagens) em seu perfil no Twitter relatando o comportamento bizarro de direitistas durante a diplomação em Porto Alegre.

Rosana relata que a deputada eleita Luciana Genro, do PSOL, foi “vaiada brutalmente” e as vaias “aumentaram muito quando ela levantou o cartaz de Justiça para Marielle”.

Ainda segundo Rosana, “quando estrou a bancada do PT, o público do teatro lotado veio abaixo. Doentes. Histeria coletiva, gritando ‘a nossa bandeira jamais será vermelha’". “Eu estava exatamente no meio do teatro e fiquei me sentindo no epicentro do inferno”, diz.

Nesta quinta-feira (20) foi a vez da diplomação em Minas Gerais virar notícia nacional por conta de agressões promovidas por militantes da nova direita bolsonarista.

A cerimônia foi realizada no Palácio das Artes, no centro da capital mineira, e o episódio foi ainda mais grave que os dos outros estados pois as agressões partiram inclusive dos responsáveis pelo cerimonial. Um vídeo que viralizou nas redes sociais mostra a apresentadora do evento arrancando das mãos da deputada petista Beatriz Cerqueira uma placa com os dizeres “Lula Livre”. Em solidariedade à deputada, o também deputado federal eleito Rogério Correia (PT) ergueu uma placa igual, foi quando o cabo Junio Amaral (PSL) partiu para a agressão, tentando arrancar a placa das mãos do petista. Os dois trocaram socos.

Pouco antes, já havia gritos da plateia que se alternavam entre: "Lula Livre" e "Respeito ao público, ladrão é na cadeia". Enquanto isso, Coronel Sandro (PSL), usava as mãos e fazia mímica como se estivesse armado.

Repercussão nas redes

Em seu perfil no Twitter, o governador do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB, alertou para o risco de rompimento do pacto democrático:

O deputado federal Henrique Fontana (PT-RS) também criticou as agressões promovidas pelos fanáticos da direita:

Em nota, a liderança do PT na Câmara repudiou as manifestações de intolerância dirigidas às bancadas do PT e do PSOL nos atos de diplomação. “O Parlamento é a expressão maior de um regime democrático, espaço da pluralidade e da livre expressão, por isso consideramos lamentável atos movidos pelo ódio e pela intolerância”, diz a nota, assinada pelo deputado Paulo Pimenta, líder da bancada petista.

Em seu perfil no Twitter, Pimenta foi mais duro na crítica e registrou que “o fascismo não tem mais a mínima vergonha de expor a sua violência publicamente”.