Aos Brasileiros: Ainda cabe sonhar!

Vivemos quase como a espinha dorsal das contradições da sociedade, uma das maiores crises de representatividade política e, consequentemente, de perspectiva. Isso se dá pela queda de qualidade de vida da população, que ao enxergar no atual comando político de seu país a culpa pelos desastres resultantes nos atrasos industriais, criam uma quase irreversível aversão às formas de condução tradicionais da política, bem como partidos e lideranças historicamente presentes no Brasil.

Por Nayara Souza

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Tamanha insatisfação do povo é identificada por grupos políticos brasileiros perigosos , com linhas liberais e conservadoras. Estas rapidamente se aliam a países com fortes interesses sob as riquezas naturais do Brasil, sobretudo, o nosso petróleo. Um destes, reconhecidamente a maior potência mundial exploradora de países subdesenvolvidos, mais conhecido como Estados Unidos da América, investe a mais alta tecnologia de inteligência artificial do mundo, oriunda da 4ª Revolução Industrial, na campanha de Jair Bolsonaro; o grande representante do imperialismo nas eleições de 2018 no Brasil.

A utilização desta tecnologia, do arsenal de dados criado, segundo o próprio filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, iniciou a quase uma década, concretizando hoje uma rede gigantesca de disseminação de ilusórias soluções e revoltas aos atuais acontecimentos e canalizando o sentimento de desesperança e ódio da população maquiado em torno de um governo, e sobretudo, na dita responsável pela crise: "velha política". Uma grande manipulação para colocar em prática a mais inédita política serviçal do imperialismo atual do mundo e, com isso, o convencimento da maior parte dos eleitores brasileiros, resultante na vitória do presidente porta voz do que diríamos: ‘mais perigoso plano econômico da história do país’. As velhas ideias desenhadas em novas molduras.

Frente a isso alguns são os desafios que se desenham para o desenvolvimento industrial e, a partir disso, a retomada do avanço econômico brasileiro. Começando pela manutenção da tão recente democracia nacional. Sem clichês de uma mera oposição, já que, inclusive, ficou basicamente inexpressiva nos espaços de tomada de decisões do poder institucional, o que reforça a convicção real da ameaça de um governo totalitário. Os pronunciamentos do atual presidente eleito reforçam determinadas reflexões. O fato de declarar aberta a perseguição às formas de organizações populares dos brasileiros, a partir da criminalização dos movimentos sociais, é uma forma de negar o livre debate de ideias. Acreditar que a universidade precisa ter em seu berço determinados "aparos" e, principalmente, entender como ameaça os centros acadêmicos é uma forma de cerceamento da liberdade de expressão.

Se não no espaço de formulação acadêmica, tecnológica e científica do país, onde mais é o espaço ideal para o debate político? O que acontece é a tentativa de enraizar uma cultura onde o povo não deve debater ou se preocupar com a política de seu país, mas encará-la como uma partida de futebol, onde as torcidas, cegamente, só estão ali para "esperar" por um resultado. Política não é futebol e o povo deve fazer parte dela, sendo críticos. Qualquer outro estímulo vem carregado de objetivos anti-povo, diante de um respaldo popular alienado.

O segundo grande desafio é o prometido plano econômico. Um verdadeiro cheque em branco assinado pela população. A promessa de mudança ganha apelo histórico mas, curiosamente, é a mudança por um rumo incerto, conturbado e ultrapassado. O mínimo que se divulga deste plano claramente prevê a conclusão da inflexão do país a uma mais agravante crise econômica e deixa o Brasil fadado a dependência de questões internacionais. É insana a possibilidade de entrega da maior riqueza natural do mundo – território com respostas para diversas questões da sociedade, garantidor do mínimo de autonomia econômica nacional – à exploração dos EUA. Ou o próprio gesto de bater continência à bandeira americana, que sempre buscou domínio sobre o Brasil, mostra, nas contradições de suas narrativas “patrióticas”, o real interesse e investimentos feitos para garantir a vitória destas eleições e servir a nossa dependência internacional. O objetivo, portanto, de setores realmente patrióticos e compromissados com os interesses nacionais é, dentre todas as limitações sistêmicas, garantir políticas para o desenvolvimento industrial e assim assegurar a mínima soberania do país, o que parece estar hoje mais distante do que nunca.

Estes dois primeiros desafios, obviamente, acarretam impactos em todos os setores econômicos e sociais do país. Assim sendo, direciono ao que considero o pilar da evolução humana: a educação. Deste ponto partem as respostas para os maiores dilemas do mundo. Como parcela indispensável para uma sociedade emancipada, a edificação do novo homem diante da elevação da consciência do povo, somente é possível com o acesso a informação e o aprendizado. É o ensino superior do país que possibilita avanços na área da medicina, indústria, logística e, mais recente e fundamental, a descoberta dos royalties do pré-sal a partir do avanço tecnológico. Encarar, como pronunciou Bolsonaro, o investimento no ensino superior como dinheiro perdido, é não compreender as bases mínimas de desenvolvimento de um país.

A proposta que existe no programa eleito para sanar o cerne problemático do ensino superior brasileiro, sendo ele a crise de financiamento das Universidades, é a cobrança de mensalidade no ensino público, o que não faz nenhum sentido, pois economicamente não resolve o problema e coloca em risco o caráter público permanente do ensino garantido na Constituição Cidadã de 88. Aparar os investimentos destinados à educação, como ocorre hoje com a PEC 95 e se promete manter no futuro governo, é aparar as possibilidades do país de se desenvolver, de gerar empregos e direitos mínimos. Por quê cobrar mensalidade e não revogar a PEC do teto de gastos?

É certo que concretizaram avanços no combate às desigualdades sociais do país e ao ingresso à universidade, cuja acesso bateu em 2014 o seu pico de 1.881.923 ingressantes. Mas a realidade ainda é distante de garantia básica à educação para todos os brasileiros. Neste sentido, o plano de Bolsonaro é acabar com as cotas étnico raciais, recentemente conquistada pelos estudantes, agravando ainda mais as desigualdades do país. E se é correto afirmar que não há comprometimento real com o investimento na educação, é correto também falar sobre a falta de comprometimento com políticas sociais e a permanência dos estudantes nas instituições de ensino, que consequentemente, vai agravar os índices de evasão estudantil que em 2016 já chegou aos marcos de 18,5% nas universidades públicas e 30,1% nas universidades privadas, em cursos presenciais.

Poderíamos fazer de um artigo uma grande tese sobre os possíveis desastres do futuro governo, mas é fato que o futuro é também de incertezas. Diante do tamanho do desafio que vive o Brasil, fiquemos com a necessidade histórica, uma ampla frente permanente em defesa da democracia e garantia das liberdades. Há muitas pessoas de diversos valores, culturas e convicções díspares que possuem nas suas singularidades um imenso amor ao Brasil. É por este orgulho, de sermos brasileiros, que não arredamos os pés da luta. Lutamos porque sabemos que somos feitos de sonhos e, para nós, mesmo nestes tempos, insistimos que ainda cabe sonhar. Lutamos porque a história do país é a história de amantes que dedicaram a vida pela democracia, pelas liberdades, pela convicção de que o Brasil é melhor que todo o ódio. Nosso Brasil, feito de um povo guerreiro, lutador e sofrido, sempre vence a boa batalha e resiste pela nação. Cedo ou tarde, venceremos. "Venceremos, pois estamos certos".