O socialismo criativo da China foi tema de encontro na Bahia

A tarde desta quinta-feira (22) teve uma sessão de provocações às reflexões quanto ao cenário político brasileiro durante um encontro que discutiu o sistema político-econômico da China, considerada um dos gigantes da economia mundial.

Debate China Bahia - Foto:Roberto Viana

O evento em questão foi o encontro “China, Socialismo Criativo?”, realizado em Salvador (BA), que teve como principal debatedor o professor Elias Jabbour, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e foi promovido pelo Instituto Pensar, instituição que, desde meados dos anos 1990, propõe-se ao trabalho de estratégias voltadas à Economia Criativa e mantém o site Socialismo Criativo. Além de debater a China como o país que mais cresce no mundo, temas como economia, crise, luta política, socialismo e até as eleições do Brasil foram discutidos no encontro.

Que economia é essa que cresce expansivamente e, hoje, enfrenta os Estados Unidos, exemplo maior que se tem quando o assunto é capitalismo? Se ainda existissem dúvidas acerca dos direcionamentos dos chineses nas suas políticas de gestão do país, Jabbour, especialista no assunto e autor dos livros "China: infra-estruturas e crescimento econômico" e e "China: desenvolvimento e socialismo de mercado", tratou de posicionar-se nos momentos iniciais de sua fala durante o encontro: “A China é um país socialista”. E, nesse lugar de população que perpassa um bilhão de pessoas e tem um PIB de mais de 10 trilhões de dólares, uma nova formação econômico-social ganha o estatuto do desenvolvimento na nação: o socialismo de mercado não é mais uma abstração. “Não estamos falando de qualquer sociedade. Estamos falando, inclusive, de uma sociedade que fez a maior revolução social do século XX. Foi a Revolução Chinesa. É uma revolução que continua até hoje, porque o processo revolucionário chinês está em andamento”, sinalizou o professor.

Elias Jabbour considera o socialismo de mercado como uma nova formação econômica e social que merece atenção e sinalizou para o crescimento do setor estatal, na China, a partir de 2009. “A reação chinesa à crise de 2008 converteu seu próprio setor produtivo em indústria-chave, fazendo desaparecer 59 estatais e surgir 149 conglomerados com a participação do Estado”, disse. O pesquisador lembrou, ainda, que a presença de dezenas de bancos de desenvolvimento é fundamental para o sucesso da economia chinesa.

Ao situar a relação do país em pauta com o Brasil, uma das debatedoras convidadas à mesa, a economista e professora Elsa Kraychete, da Universidade Federal da Bahia, lembrou que, ao final do  resultado das eleições brasileiras de 2018, a China logo se manifestou para contato com o presidente eleito para assumir o próximo quadriênio de gestão, já que, entre outras coisas, a soja brasileira tem, como um de seus principais mercados, o chinês. Kraychete sinalizou que a China tem um projeto de Nação e caminha para ser uma superpotência mundial. Sobre a política externa adotada pelos chineses, ela descartou a possibilidade de embates bélicos com outras nações. “Não interessa ao governo chinês entrar em conflitos agora. Isso é normal nas potências que estão se constituindo. Eles escolheram o caminho da diplomacia, pelo menos, neste primeiro momento”, explicou.

Nos investimentos que os chineses fazem há um direcionamento em prol desse socialismo de mercado que desenvolvem, inclusive considerando novos modelos de produção, em que uma identidade esteja impressa, saindo do caminho reconhecido pelo senso-comum como “made in China”, lembrando a nação que reúne experiências milenares e agrega o novo. Para Jabbour, enquanto na China os caminhos diversos voltam-se a uma mesma direção, no Brasil um desalinho parece ter enfraquecido alguns discursos da esquerda. “Falamos pouco em produção do trabalho e mais em inclusão e outras pautas”, afirmou o professor, para quem a esquerda brasileira possui um déficit de pensamento estratégico que contribuiu para a derrota na última eleição e para o avanço de uma onda conservadora no país. Para ele, a eleição do candidato do PSL, Jair Bolsonaro, é um tiro de morte no projeto brasileiro de Nação: “É uma derrota estratégica”.

Durante o encontro – que contou com a presença de parlamentares e dirigentes do PSB, Psol e PCdoB como a senadora Lidice da Mata, o ex-deputado federal constituinte Haroldo Lima e os estaduais Angelo Almeida, Fabíola Mansur, Olivia Santana, bem como o presidente estadual do Psol, Fábio Nogueira -, Elias Jabbour criticou, ainda, a Operação Lava-Jato e disse que a proibição de empresas brasileiras de participarem de licitações é um crime de lesa-pátria. Domingos Leonelli, ex-deputado constituinte e presidente do Instituto Pensar, deu nova leitura à fala do professor ao discordar considerando que a corrupção criou uma super mais-valia nas relações entre empresas e Poder Público.

Já a senadora Lídice da Mata, que também compôs a mesa como debatedora, defendeu que os brasileiros têm que pensar nos próprios desafios, aprendendo com os chineses, bem como manter os laços culturais com o povo e fazer isso de forma estratégica. Sobre a questão que norteou a realização do encontro, Elias Jabbour declarou: "A Economia Criativa é a quarta Revolução Industrial".