Caetano Veloso critica onda obscurantista contra professores

O cantor e compositor baiano Caetano Veloso criticou, através das redes sociais, o projeto conhecido como ‘Escola Sem Partido’, que pretende limitar a atuação dos professores no Brasil e que está em discussão na Câmara dos Deputados. Ele defendeu os professores, e afirmou que a proposta será um instrumento de intimidação na sala de aula.

Caetano Veloso

Caetano lembrou da professora Candolina, que, segundo ele, foi fundamental em sua formação. “Muitos professores me abriram os olhos para o mundo, para a literatura e para a vida. Candolina é um símbolo dessa grandeza. Isso não pode ser ameaçado por ondas obscurantistas que sugerem uma intimidação dos mestres e uma suspeita permanente na alma dos alunos”, disse.

Abaixo a íntegra do texto compartilhado por Caetano:

Fico angustiado ao ler sobre o projeto que chamam “Escola Sem Partido”. Quando muito jovem, sonhei em ser professor, só pela importância que professores tiveram na minha formação. Apenas para começar a conversa, destaco Dona Candolina, a professora de português cujas aulas assisti nos dois dos três anos do segundo ciclo do secundário. Candolina era uma soteropolitana negra e extrovertida, embora muito discreta e rigorosa. Ela era temida pelos alunos desleixados e celebrada pelos atentos ao tema do uso da língua. Eu estava entre estes últimos. Mas mesmo os que a temiam reconheciam-lhe o valor. Fico pensando na dedicação daquela mulher ao preparar-se para a missão de ensinar. Muitos professores me abriram os olhos para o mundo, para a literatura e para a vida. Candolina é um símbolo dessa grandeza. Isso não pode ser ameaçado por ondas obscurantistas que sugerem uma intimidação dos mestres e uma suspeita permanente na alma dos alunos. Só um desejo violento de partidarizar o ensino poderia conceber ideias como as que aparecem no projeto de lei apelidado “Escola Sem Partido”. Os professores são vários e seus modos de ensinar devem poder variar. Estudantes devem ser estimulados a pensar por conta própria. Tratar o tema a partir de restrições e estímulo a delações é desrespeitar algo sagrado. A escola é experiência que não deveria faltar a ninguém. Em homenagem a Dona Candolina, convido a quem me lê a observar com cuidado esse problema. Até aqui, nenhum governo, nenhum dos poderes do Estado posterior à redemocratização orientou ou limitou o ensino. Que não seja agora, na segunda década do século 21 que mitos absurdos ameacem o ofício do professor.

Escute a música Neide Candolina, feita por Caetano para sua professora: