Dino: Tolice achar que estudante forma concepção só em sala de aula

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), comentou sobre a aplicação de um decreto no estado que trata a Escola como espaço do livre e plural pensar, contrário, segundo ele, ao Projeto de Lei Escola Sem Partido que tramita no Congresso Nacional. A afirmação aconteceu em entrevista transmitida ao vivo pelo YouTube através do canal do Diário do Centro do Mundo (DCM), nesta terça-feira (20).

Dino em entrevista ao DCM

Flávio Dino afirmou que baixou o decreto no estado com base no artigo 206 da Constituição vigente. Segundo a qual o ensino deve ser ministrado com base nos princípios de igualdade, liberdade e pluralismo de ideias e concepções pedagógicas.

"Fizemos a edição desta norma contrário ao Escola Sem Partido que atende uma visão ideológica de uma escola destituída de pulsação crítica, incapaz de formar cidadãos verdadeiros que pensem com a própria cabeça".

Professor de Direito há 25 anos, Flávio Dino comentou que" faz parte da natureza, do ato de ensinar que tenhamos diálogo". Segundo ele, o decreto "visa garantir essa liberdade de estudantes, professores e funcionários em um espaço sem censura, que as opiniões se formam a partir de várias visões". 

Na entrevista, o governador destaca que "chega a ser uma tolice achar que o estudante forma a sua concepção de vida apenas na sala de aula".

Segundo Flávio Dino, o projeto Escola Sem Partido aliado a atividade de filmar seus professores em sala de aula é a morte da educação, um envenenamento. "Inferno de todos contra todos, em nome de valores do liberalismo", ressaltou.

Investir em educação tem retorno

Ele destacou que o reconhecido do trabalho que o governo no estado tem aplicado na educação deriva de professores valorizados e do grande investimento em infraestrutura, com responsabilidade fiscal. Comentou que mais de 800 escolas estão sendo construídas e reformadas no estado, o que significa entre 70 a 80% das escolas existentes no estado e sobre os investimento que tem sido realizados na melhoria da remunerações dos professores e docentes, "acima da média nacional".

Citou os várias programas visando a qualificação do ensino, programa de apoio às redes municipais, para que o ensino nos municípios também avancem. Para ele, considerando a escala temporal de retorno dos investimentos, em curto prazo estão colhendo resultados expressivos, apontados pelo Ideb, que estava em queda, antes o Maranhão alcançava 62º lugar no país, agora está em 13º. "Avançamos nove posições, comemora. "Somos o terceiro melhor Ideb do Nordeste".

Na visão do governador, em curto espaço de tempo, a administração estadual conseguiu romper com as amarras para haver desenvolvimento na região.

A esquerda ficou fragilizada

O governador foi questionado sobre a vitória da extrema direita e onde que a esquerda errou para que o Brasil elegesse Jair Bolsonaro. Flávio Dino explicou que houve interesses internacionais muito poderosos em toda a América Latina com intuito de quebrar o bloco dos Brics, encerrar o desenvolvimento do país. Para ele, mostra um estratégia muito bem coordenada por centros poderosos fora do Brasil. "Perdemos a única força que poderia conter essa ofensiva, perdemos a hegemonia das classes populares, fizeram com que o povo não se identificasse".

Para Dino, o cenário ficou mais nítido a partir de 2015. Segundo ele, a esquerda ficou muito fragilizada para dar conta dos interesses". Ele citou ainda outros aspectos que precisam ser revisados como o combate à corrupção, a cultura, mas acredita que são temas menores. O que chamou de "acessórios".

O governador frisou que o centro da questão da derrota da esquerda no âmbito nacional foi ao mesmo tempo uma estratégia planejada e executada por um lado e a esquerda sem sua principal liderança de outro. "O Lulismo ainda é a principal força popular do país, mas o Lulismo sem o Lula não foi capaz de sozinho conter a avalanche reacionária e conservadora que se organizou para vencer as eleições agora de 2018", avaliou  Dino.

Crescimento da extrema direita

Flávio Dino acredita que a política econômica e alguns passos para trás "em determinadas conquistas sociais" podem ter sido responsáveis pelo crescimento do conservadorismo no país após 2015. "Na medida que esse problema fiscal é enfrentado com a agenda alheia é claro que esses erros são incompreensíveis para a população".

Para o governador, a crise ocorreu por falta de conexão com o sentimento popular, sobretudo, na economia. Flávio Dino analisa que naquele momento o governo perdeu identidade e força para implementar sua própria agenda.

Ele lembrou que na época havia apresentado saídas alternativas para enfrentar a crise e que deveriam ter sido pautadas naquele momento, como a necessidade de priorizar uma agenda tributária marcada pela progressividade.

"Deveria ter sido pautado naquele momento. Se temos uma crise fiscal, alguém precisa pagar a conta, não pode ser os de baixo, mas o de cima", ponderou Flávio Dino lembrando que o Brasil é um dos poucos países no mundo que isenta tributo dos lucros e dividendos. "Tivesse pautado a questão da progressividade como países capitalistas fazem de modo geral, ou seja, os mais ricos pagam mais", disse o governador, citando França, Inglaterra, EUA, "seja pela via do imposto de renda, ou pelas grandes heranças, são várias técnicas que temos para tributar mais fortemente o capital financeiro".

O governador maranhense citou "os lucros astronômicos dos bancos brasileiros" neste primeiro trimestre de 2018, como "obsceno".

Prisão do maior líder popular do Brasil

Na entrevista, Flávio Dino tratou também da prisão política do ex-presidente Lula. Como professor de direito constitucional e ex-juiz federal, disse que há várias violências jurídicas que sustem a prisão de Lula. "Houve uma forçação de uma competência com base na suposta conexão com fatos relacionados à Petrobras".

Para ele, "há um princípio do direito penal segundo a qual você se defende de acusações concretas e que são provadas pela acusação isso deriva da presunção de inocência. A acusação não pode ser genérica, abstrata, ela não pode ser móvel", explicou.

Sobre a temática do juiz federal, Sérgio Moro no Ministério da Justiça, Flávio Dino disse considerar "um monumental equívoco em relação a imagem da justiça federal" e que presta um desserviço a causa de combate à corrupção." Acho que acaba pairando uma nuvem de suspeita", refletiu.

Como governador progressista, Flávio Dino comentou como será sua relação com um governo central de extrema direita. Para ele, assim como todos os governadores do Nordeste, de acordo com suas necessidades nos estados, devem estar "unidos e dispostos a colaborar".

Confira a íntegra da entrevista: