Secretário de Doria diz que 'MST é terrorista' e reforma agrária obsoleta

Nesta quinta-feira (8), o governador eleito por São Paulo, o tucano João Dória, apresentou o seu futuro secretário da Agricultura, Gustavo Junqueira. Na coletiva, o secretário deus sinais de que a prioridade de sua gestão será o agronegócio, classificou a reforma agrária como "obsoleta" e disse que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é uma organização "terrorista".

Gustavo Diniz Junqueira - Reprodução

Produtor rural nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Pará, sócio-diretor da Brasilpar Investimentos, Junqueira disse que "o programa de reforma agrária é um programa do século 19" e "que isso não deveria ser uma preocupação dos pequenos produtores".

"Temos muita terra, muita gente com capacidade de produção e de fato os produtores têm uma importância no estado de São Paulo ainda maior do que no resto do Brasil", afirmou.

Mas a realidade é bem diferente do que diz Junqueira, sentado no alto de suas fazendas. De acordo com o Censo Agropecuário de 2017, do IBGE, a estrutura agrária no Brasil se concentrou ainda mais nos últimos 11 anos.

De acordo com a pesquisa, propriedades rurais com até 50 hectares (equivalentes a 500 mil m², ou 70 campos de futebol cada) representam 81,3% do total de estabelecimentos agropecuários, ou seja, mais de 4,1 milhões de propriedades rurais. Juntas, elas somam 44,8 milhões hectares, ou 448 mil km², o que equivale a 12,8% do total da área rural produtiva do país.

Por outro lado, 2,4 mil fazendas com mais de 10 mil hectares (100 km², ou 14 mil campos de futebol cada), que correspondem a apenas 0,04% das propriedades rurais do país, ocupam 51,8 milhões de hectares (518 mil km²), ou 14,8% da área produtiva do campo brasileiro.

As propriedades que têm até 10 hectares de terra representam metade dos estabelecimentos no país, mas utilizam uma área de apenas 2,2% do território produtivo. Em 2006, elas ocupavam 2,7% do total.

Sobre o MST, movimento que luta pela reforma agrária do país, Junqueira disse que é uma organização terrorista. "Eu não sou partidário de que a gente deva aliviar. Eu mesmo tive contraponto com o governador Geraldo Alckmin no momento que ele fez essa aproximação", contou o futuro secretário.

"Temos as leis e as leis precisam ser respeitadas. Nenhuma propriedade privada pode ser invadida e o governo do Estado não vai permitir que esses abusos ocorram", disse. Junqueira esquece que, além do MST ocupar apenas terras improdutivas, a luta é para assegurar que um preceito constitucional, da função social da terra, seja respeitado.

Junqueira finalizou dizendo que a pasta vai se dedicar aos ruralistas e ao agronegócio. "Temos uma estrutura que precisa ser modernizada, precisamos levar tecnologia para o campo. Precisamos fazer isso de maneira que seja sustentável", disse.

Quem é?

Até 2017, Junqueira presidiu a Sociedade Rural Brasileira, entidade de 97 anos que em março de 1964 ajudou a organizar a Marcha da Família com Deus pela Liberdade.

A imagem de produtor rural está longe daquele que lida com a terra. Ele é formado em administração de empresas, mestre em finanças pela Thunderbird School Management dos Estados Unidos, onde morou e trabalhou por seis anos.

Ele é o responsável pelo slogan da SRB: “Vamos tirar o Brasil da lama”, que insuflava o golpe contra o mandato da presidenta Dilma Rousseff, em 2016. Junqueira chegou a encaminhar uma carta aos associados e demais entidades patronais rurais em que dizia que Dilma estava "incitando a violência" ao denunciar o golpe e que estava manobrando para colocar Lula na Casa Civil.

Em matéria publicada pela CartaCapital naquele ano, descreve Junqueira como um descendente de nobres bandeirantes, escravocratas do II Império, período em que Dom Pedro II distribuía títulos de nobreza a cafeicultores ricos, industriais e comerciantes, em troca de "doações" para o Império.

“Meus antepassados fundaram duas usinas em São Paulo. A Vale do Rosário, pelo meu bisavô – Nhonhô de Almeida Prado – e a Mandú, pelo meu pai, Roberto Diniz Junqueira. Atuamos na agricultura com cana, soja e milho e na pecuária com cria, recria e engorda de gado Nelore selecionado com propriedades em São Paulo, Pará e Minas Gerais. Criamos cavalo Mangalarga desde o século XVIII”, conta o próprio Junqueira.