Juiz da 'Lava Jato da Itália' critica ingresso tão rápido de Moro na política

Em entrevista ao UOL, Gherardo Colombo, um dos magistrados que conduziu a operação Mãos Limpas da Itália, semelhante a Lava Jato, criticou a decisão de Sergio Moro de ingressar no governo Bolsonaro.

Moro e Guedes - Foto: Silvia Izquierdo/AP

"Deve haver um tempo entre a saída da magistratura e o ingresso na política", disse o magistrado. Moro já afirmou que se inspira na operação italiana ao aplicar sua decisões e conduzir os processo da Lava Jato em Curitiba.

"Um juiz, se quiser, pode entrar na política, mas seguindo algumas regras. Independente dessas regras estarem escritas ou não", afirmou. E completa: "Seria muito oportuno que a escolha seja sem volta. Alguém que decide fazer política não pode mais ser magistrado. Segundo, deve haver um tempo entre a saída da magistratura e o ingresso na política. Terceiro, esse tempo deve ser bastante substancial, longo, principalmente para aqueles que ficaram famosos por causa de suas atividades como juiz".

Segundo ele, Sergio Moro "deveria pelo menos ter esperado antes de entrar na política".

Na matéria, o Uol lembra que um dos efeitos imediatos da operação foi a descrença com os políticos com estímulo aos chamados outsiders da política, que vem com uma fachada de "nova" política. Em 1994, na Itália, a operação Mãos Limpas levou a eleição do empresário para primeiro-ministro: Silvio Berlusconi, que mais tarde estava envolvido em diversos escândalos.

Colombo disse que Antonio Di Pietro, o magistrado que virou celebridade na Itália assim como Moro, trocou o tribunal pela política. "Mas ele esperou um ano e meio. Primeiro, deixou a atividade de magistrado, depois entrou na política", destacou.

Na trilha do outsiders, Di Pietro criou um partido, se elegeu para o Parlamento, mas a carreira não decolou e ele voltou a advogaf.

Ao ser questionado sobre o fato de de Moro ter condenado e prendido Lula, o que tornou o ex-presidente inelegível, Colombo disse que "às vezes se pode perder a imagem de independência que deve haver um juiz, também pelo comportamento sucessivo ao exercício da atividade na magistratura".

"Me pergunto se, ao se colocar em uma matéria eleitoralmente sensível e sem nenhum intervalo, se tornando o ministro da força que venceu a eleição, as pessoas não venham a pensar que talvez ele não seja tão independente nem mesmo tenha sido antes, quando era juiz", avaliou.

Sobre as declarações de Sergio Moro que disse que a Operação Mãos Limpas era um exemplo para ele e a Lava Jato, Colombo disse que "não estou muito de acordo".

"Já fiz dois ou três debates junto com Sergio Moro no Brasil e sempre sublinhei uma diferença muito importante entre a organização judiciária aqui e no Brasil. Na Itália não é possível, muito justamente, um juiz exprimir sua própria opinião sobre o processo que está fazendo fora dos autos. Isso no Brasil acontece muito frequentemente. Esse é um aspecto", salientou.

E acrescenta: "O outro, ainda mais importante, é que na Itália é proibido ao juiz que faz a investigação processar e condenar o investigado. Tudo ao contrário daquilo que acontece no Brasil, onde Moro acompanhou a investigação e depois condenou Lula. E agora, como Ministro da Justiça, o juiz que o condenou será o responsável por mantê-lo preso".