Deputados criticam Bolsonaro por intimidar imprensa

Deputados do PCdoB criticaram, nesta terça-feira (30), a postura do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), ao afirmar que tiraria verba governamental destinada à publicidade de veículos que o criticassem. A fala de Bolsonaro, durante entrevistas à Record, Band, SBT e Globo na segunda-feira (29), fazia referência ao jornal Folha de S.Paulo, que denunciou, após o primeiro turno, um esquema de caixa2 que, supostamente, favoreceu Bolsonaro nas eleições deste ano.

Por Christiane Peres

liberdade de imprensa - Reprodução da Internet

Durante sua campanha, Bolsonaro chegou a afirmar que gostaria que a publicação acabasse. No entanto, para a Globo, se limitou a dizer: “Não quero que ela acabe. Mas, no que depender de mim, na propaganda oficial do governo, imprensa que se comportar dessa maneira, mentindo descaradamente, não terá apoio do governo federal (…) Por si só, esse jornal se acabou. Não tem prestígio mais nenhum”.

Para a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), o tom de ameaça de Jair Bolsonaro explicita a dificuldade do futuro presidente para lidar com o contraditório. “A verba publicitária deve ser para o máximo possível de canais e veículos, e não somente para os que evitam críticas ao governo. O presidente eleito mostra que não preza a pluralidade de opinião e informação”, criticou. Para ela, essa não é a postura que se espera de “alguém que defenda a democracia e a pluralidade de opinião”.

No último dia 18, uma reportagem publicada pela Folha de S.Paulo denunciou um esquema criminoso que impulsionou a candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência da República: a contratação, por empresários, de pacotes de disparos em massa de mensagem no WhatsApp contra o PT. De acordo com a matéria, os contratos chegaram a R$ 12 milhões. A prática, ilegal, está sendo averiguada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Antes disso, o mesmo jornal já havia denunciado o caso de uma funcionária fantasma no gabinete de Bolsonaro. Walderice dos Santos da Conceição, a Wal, ex-assessora de Bolsonaro na Câmara dos Deputados, tinha uma lojinha de açaí e prestava serviços particulares ao deputado federal em Angra dos Reis (RJ), onde ele tem casa de veraneio, na mesma época, denunciou o jornal em reportagem.

Segundo Bolsonaro, o jornal rotulou sua ex-funcionário de “forma injusta” e não merece crédito.
Orlando Silva, líder do PCdoB na Câmara por São Paulo, afirmou que a garantia da liberdade de imprensa é essencial e que um presidente eleito não deveria intimidar órgãos de imprensa.

“Não pode um presidente eleito intimidar órgãos de imprensa. Não é razoável que ele use um dinheiro que não é dele, que é público, e cuja publicidade tem um objetivo público, para manejar e manipular interesses políticos, para intimidar o trabalho que a imprensa deve fazer com liberdade. Evidentemente que a imprensa crítica é crítica. E ao fazer as críticas, a liderança pública deve acolher com humildade as críticas feitas pela sociedade, inclusive pela imprensa. O que não se pode é propagar mentiras, difamação. Agora, a notícia e o debate são fundamentais e a imprensa livre é importante para isso. Creio que a defesa da democracia no Brasil passou a ser um tema central para o próximo período”, afirmou.