Bolsonaro poderá seguir exemplo de Trump nas relações com China?

Desde 2009, a China é o maior parceiro comercial e um dos principais parceiros do Brasil na área monetária, financeira e de investimentos. Foi à China que Michel Temer fez sua primeira visita ao exterior em 2016. Analistas comentam como poderão mudar as relações sino-brasileiras após a eleição de Jair Bolsonaro

Bolsonaro bate continência para EUA

Falando sobre política externa após serem anunciados os resultados das eleições, Bolsonaro prometeu que vai priorizar as relações bilaterais com países desenvolvidos do ponto de vista econômico e tecnológico sem mencionar a China, o atual maior parceiro comercial do Brasil.

Porém, durante a campanha eleitoral o direitista por várias vezes criticou Pequim e até afirmou que "a China não está comprando no Brasil, a China está comprando o Brasil".

Em busca de alinhamento com os EUA, o presidente eleito talvez tenha tentado seguir o exemplo de Donald Trump, acusando Pequim de procurar dominar a economia brasileira. No entanto, as estatísticas mostram a importância do mercado chinês para o Brasil: Pequim importa 50% da soja brasileira, sendo responsável por 18-20% da exportação do país latino-americano em geral. Entretanto, o Brasil tem saldo positivo no comercio bilateral com a China.

Para o especialista do Instituto da América Latina, Aleksandr Kharlamenko, os EUA influenciaram a corrida eleitoral no Brasil para "tirar o maior país da região da esfera do desenvolvimento dinâmico das relações econômicas e políticas com a China". O analista não descartou também o impacto negativo que terá a chegada de um governo de extrema-direita ao poder nas relações sino-brasileiras.

"Jair Bolsonaro expressou constantemente sua admiração por [o presidente dos EUA, Donald] Trump e acho que seguirá seu exemplo, ou seja, aplicará algumas sanções sob pretexto de [a China] estar comprando o Brasil", opinou Kharlamov.

Durante sua campanha eleitoral, o candidato do PSL também defendeu a privatização de empresas estatais que deem prejuízo, com exceção do setor de energia e do "miolo" da Petrobras. Segundo Kharlamenko, os planos poderão afetar as bases da cooperação entre Brasília e Pequim.
"A parceria da China com o Brasil, assim como com outros países, está baseada em primeiro lugar em um setor público forte […] Se esta base for destruída, esse fator poderá afetar as relações econômicas entre os dois países", falou o analista.

Kharlamov apontou também para o fato de a Petrobras dever à China 2,8 bilhões de dólares, emprestados ainda em 2009. Além disso, a estatal tem um contrato para venda de petróleo com as empresas chinesas China National United Oil Corporation, China Zhenhua Oil Co. e Chemchina Petrochemical.

Diretor do Centro da América Latina da Universidade de Anhui chinesa, Fan Hesheng, acredita que se o ex-capitão se preocupa com os interesses nacionais do Brasil, ele não pode prejudicar a cooperação do país com a China.

"Como um político que é responsável perante seu país e ganhou apoio do eleitorado […] antes de mais [Bolsonaro] deve levar em consideração o bem-estar do país […] O Brasil não pode ignorar o gigantesco mercado chinês. Se o Brasil quer continuar a se desenvolver e recuperar sua economia, o mercado chinês é muito importante para manter esta tendência."
Hesheng prevê que o novo presidente poderá fazer certas alterações na estratégia atual da cooperação sino-brasileira, mas duvida que hajam mudanças radicais.

"A tendência atual é que politicamente o Brasil depende dos EUA, mas economicamente depende da parceria com a China. Se perder o mercado chinês, então a recuperação da economia será muito difícil. Ao mesmo tempo, eu não veria o futuro das relações sino-brasileiras como muito pessimista", concluiu.

Na segunda feira (29), o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lu Kang, parabenizou Jair Bolsonaro pela vitória nas eleições presidenciais e reiterou a prontidão de Pequim para continuar a aprofundar a cooperação bilateral com o Brasil, contribuindo para o bem-estar dos ambos os países.