“Um vexame o primeiro discurso”, diz Milton Hatoum sobre Bolsonaro

Considerado um dos maiores escritores contemporâneos do Brasil, Milton Hatoum qualificou como “um vexame” o primeiro discurso de Jair Bolsonaro (PSL), após ser confirmado como novo presidente eleito, na noite deste domingo (28).

Milton Hatoum - Marcos Vilas Boas

Para o escritor amazonense, o discurso foi “de uma vulgaridade gritante (na forma e no conteúdo)” e “antecipa um estilo de governar”.

Hatoum destaca o momento em que Bolsonaro passa a palavra para Magno Malta, durante a transmissão em rede nacional, e todo o grupo político faz uma oração. “O eleito e seus assessores, orando de mãos dadas e olhos fechados, pareciam membros de uma seita religiosa fundamentalista, e não dirigentes políticos de um Estado laico”.

“Não menos vulgares são os assessores e bajuladores que cercam o capitão. Ao ver e ouvir as cenas patéticas da reza e da fala, me lembrei das frases de um conto de Tchekhov: ‘Estou cercado de vulgaridades por todos os lados […] Gente enfadonha, vazia… Não há nada mais medonho, mais ultrajante, mais deprimente do que a vulgaridade. Fugir daqui, fugir hoje mesmo, senão vou ficar louco!’.

Porém, para o escritor e professor, fugir não é uma opção. Já deixou claro nesta segunda-feira (29) que, assim como milhões de brasileiros, ele também será resistência. “Vou ficar aqui, lendo, escrevendo, dando palestras sobre literatura, questionando democraticamente essa figura sinistra e o que ela representa”.