Jandira Feghali: Aos que se importam

É difícil saber como começa uma ditadura ou quanto tempo vai durar. Mas ela dá sinais, por vezes bem fortes, como agora. Vai se infiltrando em corações e mentes fazendo-os crer que o país chegou ao fundo do poço. Que é preciso mão firme para solucionar os graves problemas enfrentados.

Por Jandira Feghali

ditadura

Elegem um fantoche para canalizar seu desejo de poder e fazem da sociedade um alvo fácil para que, subliminarmente, o pensamento único impere. Depois de instalado, ele justifica qualquer tipo de conduta.

A ditadura militar no Brasil durou 21 anos. De 1964 a 1985, promoveu a censura, torturas, desaparecimentos e assassinatos. Atacou direitos sociais com uma explosão de concentração de renda e promoveu uma forte redução do salário mínimo, que foi rebaixado ao seu menor valor de todos os tempos. Um custo altíssimo pago com sacrifícios e vidas. Foi a luta de pessoas perseguidas e comprometidas com a liberdade que impôs a resistência ao regime autoritário e permitiu que ele tivesse um fim. Foram as pessoas taxadas de comunistas e terroristas que não se calaram e denunciaram as atrocidades cometidas.

Hoje, 33 anos nos separam do dia em que comemoramos a fim da ditadura e muitos sequer se recordam dos dias difíceis. Os mais jovens, intocados pela violência por ela provocada, talvez se identifiquem com os que pretendem transformá-la em mero "movimento". Mas, nem todos perderam a capacidade de se importar. O país está dividido sim. Mas não entre honestos e corruptos. Esquerda e direita. Petistas e antipetistas. O Brasil está assistindo o embate cada vez mais nítido entre os que se importam e os que não se importam com a democracia.

Há um número grande de pessoas que precisam ser acordadas para o risco de perder sua liberdade de pensar e agir.

Aos que, conscientemente não se importam, não há o que ser dito. Eles sabem do precipício em que podemos cair, mas incorporaram de tal maneira o discurso do ódio que já se tornaram impermeáveis a qualquer tipo de argumento. Dirijo-me aos que se importam. E, acredito, são maioria. Aos que não viveram uma ditadura, mas são capazes de entender seus efeitos danosos para toda a sociedade. Aos que conviveram com o regime militar sendo, em maior ou menor grau, por ele afetados. Aos que ainda estão em dúvida diante das urnas.
A esses me dirijo.

Não se deixem enganar pelo discurso de que estamos na normalidade democrática. Há um desequilíbrio evidente entre o poder de massificação da mensagem de nosso opositor e nossa capacidade de resistir às mentiras veiculadas. Enquanto eles se utilizam de todos os meios, lícitos e ilícitos, para convencer os eleitores de que são a "salvação da pátria", nós cumprimos nosso papel de dialogar e alertar para o que está por trás dessa verdadeira avalanche de fakenews.

Enquanto eles fogem do debate, nós estamos nas ruas todos os dias defendendo nossas propostas e tentando evitar o estado de exceção. Defendemos o direito à divergência, o pluralismo político, o livre pensar, o direito de livre associação, organização e de culto. As liberdades, a diversidade cultural e humana, sem preconceitos de qualquer tipo. E por isso, somos defensores da paz.

Jamais aceitaremos a tortura, o estupro, a violência, o banimento, o exílio, a prisão arbitrária como métodos de ação do Estado ou a serem protegidos por ele.

É momento dos que se importam saírem do conforto da neutralidade. Sem medo. Apenas com a certeza de que não podemos compactuar com os que querem sair da caserna para comandarem a política e com a grave ruptura democrática apresentada pela candidatura Bolsonaro.

Os que se importam fizeram toda a diferença nos anos de chumbo. Estou confiante que farão a diferença agora e não permitirão que a semente da ditadura germine. Dia 28 de outubro é dia de se importar! Por nós mesmos, por nossos filhos e filhas, pelo Brasil que sabemos pode voltar a combater as desigualdades e a fome! Pelo Brasil altivo e soberano! Pelo Brasil da paz e da vida! Pela democracia e pela liberdade é HORA de VIRAR! Haddad e Manuela 13!