Caravana de imigrantes segue firme em direção aos EUA

Milhares de centro-americanos atravessam o México com destino aos EUA; Donald Trump ameaça cortar e reduzir a ajuda financeira a Guatemala, Honduras e El Salvador

caravana hondurenha - Getty Images

Após muitas controvérsias sobre o número de centro-americanos, hondurenhos em sua maioria, que marcham rumo aos EUA, a ONU anunciou ontem que são 7 mil pessoas. No domingo (21), a massa de pessoas chegou à cidade de Tapachula, a aproximadamente 37 km da fronteira do México com a Guatemala; muitas já atravessam o território mexicano.

O secretário geral da ONU, Antônio Guterres, realizou uma série de reuniões no final de semana para debater a situação da marcha de cidadãos da América Central que caminham para tentar ingressar nos EUA. Nesta terça-feira (23, Guterres se encontrará com o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, para discutir a questão.

Diante do avanço da caravana, que saiu de Honduras no dia 13 de outubro, Donald Trump anunciou na segunda-feira (22) que irá cortar ou reduzir a ajuda externa que Washington fornece para a Guatemala, Honduras e El Salvador. Para o ano fiscal de 2018, a USAID já distribuiu 15 milhões de dólares para Honduras, 52 milhões para Guatemala e 20 milhões para El Salvador. Esses valores são resultado de um corte de 40% realizado pela gestão Trump. Pressionado, o governo da Guatemala fechou suas fronteiras com Honduras e México por tempo indeterminado.

De acordo com o The New York Times, o plano de Trump para impedir a entrada dos imigrantes pode significar uma nova separação de famílias – a política de separar famílias na fronteiras gerou uma crise no meio do ano. Segundo o jornal, as famílias podem ter de escolher entre entregarem as crianças para cuidadores temporários ou ficarem juntos na prisão.

Trump fez uma série de tweets, em que acusou os governos dos três países de “não terem sido capazes de fazer o seu trabalho” e impedir os seus cidadãos de se dirigirem “ilegalmente até aos Estados Unidos”. Segundo a Reuters, grupos pró-imigração argumentam que cortar a ajuda financeira é contraproducente se o objetivo é conter a onda de migrantes, e que a assistência serve justamente para estabilizar os países, para que os cidadãos não sintam necessidade de fugir da vida que levam.


Imigrantes atravessam a fronteira através do rio Suchiate/ Foto: Reuters

Os três países são dos mais violentos no mundo, e a vaga crescente de violência, pobreza e corrupção são algumas das razões dos imigrantes para fugirem rumo aos Estados Unidos, na marcha que começou com 160 pessoas, mas ganhou corpo à medida que avançava.

"Estamos queimados de Sol. Temos bolhas nos pés. Mas chegamos aqui. Nossa força é maior que as ameaças de Trump", disse a imigrante Britany Hernández à agência de notícias AFP.

O presidente norte-americano também não tardou em proferir discursos xenóbfobicos e islamofóbicos para tratar do assunto. Referiu-se ao movimento migratório como “uma emergência nacional”, assegurando que “criminosos não identificados e indivíduos do Oriente Médio” estariam presentes na marcha.  Além disso, Trump culpou novamente os democratas pela crise migratória, acusando-os de impedirem leis mais duras para impedir a entrada ilegal de pessoas.

“Trump e os Republicanos controlam a Casa Branca e o Congresso há dois anos. Quando ele se queixar da imigração, lembrem-se que eles não têm soluções reais. Se tivessem, teríamos passado uma reforma para a imigração e proteção para os Dreamers [que impediria a deportação de jovens que foram levados para os EUA em criança] há muito tempo”, argumentou o democrata Don Beyer, no Twitter.