O neoliberalismo é o fascismo moderno

"O risco Bolsonaro dado o tamanho do Brasil é o risco de disruptura civilizacional no quinto maior país do mundo, levando consigo um raio de destruição capaz de arrastar grande parte da América Latina consigo".

Por Elias Jabour*

Bolsonaro - Foto: Tânia Rego/Agência Brasil

Nunca tive dúvidas sobre a não idiotice de Bolsonaro. Quem me conhece sempre soube de minha opinião sobre ele e o que passou a representar de alguns anos para cá. Digo “de alguns anos para cá”, pois Bolsonaro mudou muito, e para pior. Acrescentou ao seu portfólio, que um dia já teve algo de defesa de um “nacionalismo econômico mitigado”, uma fé cega no papel do mercado na solução de questões de ordem social. Novamente digo “para quem me conhece”, que o fascismo moderno não necessita mais de um Estado forte e planificador em torno de suas empresas nacionais e um chicote prussiano a domesticar os trabalhadores.

O fascismo moderno mudou junto com a dinâmica de acumulação: é um mix entre políticas de extermínio de minorias, “vermelhos” e ativistas de toda espécie acrescido de livre circulação de capitais e a grande finança com a chave do cofre (do Banco Central, óbvio). O neoliberalismo é o fascismo moderno que ao criar ampla exclusão social retroalimenta a máquina do ódio e do neodarwinismo social. Engels dizia em algum momento “não existe lugar aos pobres no baquete da natureza”. Eu digo, “não existe lugar ao povo no banquete da grande finança fascistizada”. Em uma nação de 210 milhões de habitantes, com profundas marcas deixadas pela escravidão e a fragilidade ideológica típica de um país com imenso litoral e cidades que antes da Revolução de 1930 eram “portos empórios voltados ao comércio exterior”, vai se compondo um caldo de cultura amplamente antipopular e antinacional.

Assim se explica um pouco do perfil dos apoiadores de Bolsonaro: além de racistas e homofóbicos, sentem uma profunda vergonha de serem brasileiros. Na verdade estão pouco se lixando com as cores da bandeira brasileira. Querem, no fundo, uma política de âncora cambial que os permita viver no circuito Elizabeth Ardens algumas vezes do ano. Daí a hipocrisia dos apoiadores deste monstro. Cantam o hino nacional e querem a privatização da Petrobras. Vestem o “verde e amarelo”, mas pedem “Mais Mises e Menos Marx”, traem suas mulheres e defendem “os valores da família”, clamam por livrar o país do “comunismo”, pedindo por Cristo, um dia torturado e morto. Homenageiam o covarde dos covardes, Jair Bolsonaro, um anão de outro “cristão” de sobrenome Brilhante Ustra.

Não são poucos os autores a relacionar a não combinação entre neoliberalismo e democracia. Não preciso apelar a Polanyi sobre a redução do ser humano a uma racionalidade criada, não surgida “de mercado” que levam as pessoas a acreditarem que nasceram em função da “troca” e que dessa função surge a divisão social do trabalho, a especialização e a técnica. Podemos perceber o outro lado do “progresso burguês” no surgimento de instituições pautadas pelo direito e a política, garantidoras da convivência da divergência. Não falo de um estado weberiano, “acima do bem e do mal”. Falo das conquistas civilizacionais legadas pela Revolução Francesa. Sim, meus camaradas.

Defender os valores da Revolução Francesa nos tempos atuais é trocar a hipocrisia liberal pela utopia dos primeiros socialistas. Pois nem na cabeça dos primeiros liberais dignos desse nome (Smith e Ricardo), a negação de si próprios seria realizada por quem reagiu em seus nomes no final do século XIX (reação “neoclássica”, “marginalista”) “elevaram” a economia ao verdadeiro grau de ciência. A Teoria Quantitativa da Moeda aparecida em meio à “pornografia” inerente ao Estado Mercantilista no mundo de hoje não poderia servir de aparato teórico a barbárie. Willian Petty advogava os métodos quantitativos para analisar as contas nacionais. Não a destruição de uma nação em nome da “estabilidade da moeda”.

O risco Bolsonaro não é a minha pele vermelha em jogo. Sei muito bem onde me meti quando fiz minhas opções políticas e ideológicas no início da década de 1990. Não me arrependo de nenhuma delas. O risco Bolsonaro dado o tamanho do Brasil é o risco de disruptura civilizacional no quinto maior país do mundo, levando consigo um raio de destruição capaz de arrastar grande parte da América Latina consigo. Indo ao encontro da política externa norte-americana não mais somente baseada na destruição de projetos nacionais autônomos inspirados em países como a China. O patamar de ação e objetivo é outro. Trata-se de destruir sociedades inteiras. O discurso de ódio proferido por Bolsonaro no domingo incentivado por gritos e sussurros de milhares de cadelas fascistas soltas nas principais cidades do país é um alerta aos patriotas e humanistas em geral: o Brasil será um laboratório de fim de mundo com a institucionalização do “Fascismo 2.2. O Fascismo D-D’”.

A covardia do STF, o oportunismo de aliados potenciais que colocam sua vaidade pessoal acima dos interesses nacionais e populares, a potencialização da cultura do medo que leva milhões de compatriotas honestos a votarem nesse monstro (criado entre as “Jornadas de Junho [ou julho?] e a maior operação criminosa levada a cabo por fascistas confessos [Operação Lava Jato]). Jair Bolsonaro é uma mistura de Luís Roberto Barroso, Carmen Lúcia, Sérgio Moro e Daltan Dallagnol. Um monstro a ser contido. Algo que vai além do Brasil. Já estamos tratando de uma perfeita imagem e semelhança do maior poder fascista e assassino global (Estados Unidos). Um Keynes perneta na América do Norte e um Mises desavergonhado no Brasil. Em xeque a própria civilização. Eis a essência do “Fascismo 2.2. O Fascismo D-D’”.