André Haguette: Os dois não são equivalentes

"Os jogos estão feitos. Os dois estão face a face e qualquer decisão que o eleitor tome, votar ou se abster, favorecerá um ou outro. Não há escapatória; nosso futuro próximo está sendo definido”.

Por André Haguette*

Haddad x Bolsonaro

Os jogos estão feitos. Os dois estão face a face e qualquer decisão que o eleitor tome, votar ou se abster, favorecerá um ou outro. Não há escapatória; nosso futuro próximo está sendo definido. Mas, são os dois equivalentes? Pelo menos semelhantes, parecidos ao ponto que tanto faz um como outro? Um é rude e violento; o outro é bem-educado, ponderado; um expressa apoio à tortura e elogia os torturadores e a matança de supostos criminosos; o outro propõe o respeito à Constituição e às normas internacionais; um despreza os direitos humanos; o outro se guia por eles; um é complacente com a homofobia, o sexismo e o racismo; o outro não discrimina, todos sendo iguais; um é nostálgico de um passado militarizado, corrupto e fechado; o outro é pacífico e libertário; um quer a volta a uma sociedade ultrapassada; o outro é moderno, aberto ao novo e ao multiculturalismo; um é favorável ao desmatamento da Amazônia; o outro cultiva o meio ambiente e as energias renováveis; enfim, um é conservador e autoritário; o outro progressista e democrático. Um é reacionário em relação aos valores do mundo civilizado; o outro abraça os valores do mundo contemporâneo ocidental; um é o candidato dos empresários e dos banqueiros; o outro representa os pobres, os trabalhadores e as mulheres; um não denuncia a desigualdade social; o outro visa a equidade e o fim da desigualdade. E assim por diante. Sob qualquer ângulo em que comparemos os dois veremos personalidades e valores diferentes. Votar num ou no outro obriga-nos a definir nossos próprios valores e a sociedade que queremos para nós, nossos filhos e nossos netos.

Sei, as classes médias rejeitam o petismo e odeiam Lula. Um é o candidato dessas tendências que governaram durante 14 anos. Mas vale lembrar que os governos de Lula foram positivos para o País, enquanto os de Dilma foram negativos. Sob Lula, a economia cresce, o País fica mais rico. O saldo comercial prospera numa média anual de 34,3 %; o salário mínimo sofre um aumento real de 53%; o poder de compra em relação à cesta básica aumenta em 53,73%; o PIB cresce em média 3,6% ao ano; o PIB per capita se eleva em 2,3% ao ano; as reservas cambiais pulam para 350 bilhões de reais; o índice de Gini vai a 0,549, uma evolução anual de – 1,2% (quanto mais perto de zero, maior a igualdade). A educação melhora com políticas exitosas: Fundeb, novo Enem, Prouni. Reuni, ampliação do Fies, criação de 18 universidades federais e de 38 Institutos Federais de Educação, aprimoramento da Lei das cotas, aumento de vagas em estabelecimentos particulares.

Repito, os governos Lula foram bons para o Brasil, apesar de graves erros como o da corrupção. O candidato do PT não é ligado à Dilma, e, por sua personalidade, ele pode retomar, redirecionar e aperfeiçoar o trabalho realizado por Lula com promoção da democracia, dos direitos humanos, do multiculturalismo, do desenvolvimento sustentável, do apoio às energias renováveis, à igualdade entre as regiões e os indivíduos, rumo de um País moderno e civilizado, o que certamente o outro nem planeja em fazer.

Claro, quem preferir um País violento, armado, desigual, autoritário, sem direitos fundamentais, cada vez mais afastado dos valores humanos, cristãos e éticos dos países civilizados deve votar no outro.


*André Haguette é sociólogo e professor titular da Universidade Federal do Ceará (UFC).

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