Empresário que apoia Bolsonaro não vê que está indo para o abismo

O metalúrgico Marcelo Toledo afirmou que parcela do empresariado brasileiro que se uniu ao candidato à Presidência Jair Bolsonaro está equivocada. “Será que eles não enxergam que estão indo para o abismo?”, questionou Toledo, que é dirigente da Federação Interestadual dos Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil (Fitmetal). Segundo o sindicalista, Bolsonaro vai aprofundar a crise, que hoje penaliza o trabalhador, mas que vai chegar ao empresariado.

Por Railídia Carvalho

jair bolsonaro - Sérgio Lima/Poder360

Nesta quinta-feira (18), a Folha de S. Paulo revelou que empresários financiaram disparos de mensagens contra o PT no WhatsApp. Segundo o jornal, cada contrato teria custado R$ 12 milhões.

De acordo com a Folha, um desses empresários seria Luciano Hung, dono da Havan. No dia 3 de outubro, Hung foi obrigado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) a se retratar diante dos trabalhadores das lojas por ter coagido os funcionários a votarem em Bolsonaro.

“A consequência desse apoio dos empresários ao Bolsonaro pode ser a destruição total do que sobrou do parque nacional brasileiro. De forma equivocada, esses empresários, à revelia das regras eleitorais, fazem campanha para um candidato que não tem proposta para o Brasil”, analisou Toledo.   

Bolsonaro é continuidade de Temer: tragédia para economia

Clemente Ganz, diretor técnico do Departamento Intersindical (Dieese), disse em entrevista ao Portal Vermelho em agosto que as medidas de Michel Temer desmobilizaram a dinâmica econômica. A reforma trabalhista que Bolsonaro diz que vai aprofundar é, segundo Clemente, uma tragédia para a economia.

“As empresas vão produzir menos, vão ganhar menos, teremos menos empregos. É uma dinâmica desmobilizadora. A reforma que foi vista como uma boa medida para as empresas reduzirem os custos se tornaram uma tragédia para o país e para as próprias empresas. Ao contrário do que se viu há dez anos quanto tínhamos crescimento com geração de emprego”, esclareceu Clemente.

Bolsonaro não tem proposta

Este é o abismo previsto por Toledo. “Bolsonaro não apresentou nenhuma proposta que não seja privatização das estatais, retirada de direitos trabalhistas e ataque à soberania”, completou.

Segundo o dirigente, o programa de Fernando Haddad e Manuela d’Ávila representa o oposto do adversário. “Eles querem fortalecer a indústria nacional e têm um projeto de retomada do crescimento econômico com inclusão e valorização do emprego com geração de renda.” 

“Os empresários não aprenderam nada com o golpe de 2016 que tirou Dilma Rousseff da presidência e colocou Michel Temer. O impeachment, que contou com o apoio desse time representou um aprofundamento da crise da indústria nacional. Os que deram o golpe não apresentaram nenhuma solução”, analisou Toledo.

Parcela do empresariado quer caminho aberto para explorar

De acordo com o sindicalista, o sentimento de classe, a busca pelo lucro e a visão atrasada de que o PT vai estatizar tudo leva o empresariado a optar por Bolsonaro. “O candidato do PSL já sinalizou que vai apertar a reforma trabalhista, que vai acabar com os sindicatos. A carteira verde e amarela proposta por Bolsonaro é mais um ataque aos direitos previstos na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).”

“Com Bolsonaro os empresários visualizam esse caminho aberto para aumentar a exploração da classe trabalhadora. Acham que vão deitar e rolar com a terceirização. Vão aplicando a reforma trabalhista aos poucos e se a conjuntura política for favorável a eles vão mais rápido. É o cúmulo uma carteira que abre mão dos direitos da CLT”, esclareceu Toledo.

“Essa carteira verde e amarela proposta por Bolsonaro é a destruição total das conquistas históricas da classe operária brasileira. A reforma trabalhista não destruiu por completo a CLT. Alguns mecanismos que dão certo poder ao sindicato foram mantidos, como o sindicato representar o trabalhador na negociação coletiva. O que Bolsonaro pretende é destruir qualquer instrumento que possibilite a luta do trabalhador por seus direitos.”

Ódio alimenta base social contrária a reivindicações sociais e trabalhistas

Para Toledo, o apoio de parcela do empresariado está contribuindo para Bolsonaro criar uma base social nazifascista para criar grupos de caça contra petistas, feministas, sindicalistas, comunistas e ativistas de modo geral.

Essa postura, no entanto, começa a desagradar internacionalmente, lembrou Toledo. Ele citou declaração da presidente do Grupo Parlamentar Teuto-Brasileiro no Bundestag [Parlamento alemão], a deputada Yasmin Fahimi. Em entrevista ao portal DW, a parlamentar assegurou que uma possível vitória de Bolsonaro pode impedir a retomada de parceria estratégica entre Brasil e Alemanha.

“Um presidente Bolsonaro representaria uma privatização radical, um sangramento sociopolítico do país e o rompimento com acordos internacionais”, declarou Yasmin. Segundo ela, Haddad seria um presidente completamente diferente de Bolsonaro, mais moderado e com quem possa haver diálogo.

O dirigente da Fitmetal avalia que é preciso intensificar a unidade das centrais e que é um desafio do movimento sindical ampliar o diálogo com as bases. “As centrais sindicais precisam chacoalhar a militância e dialogar com o povo. Fazer o debate político e de formação política associado ao dia a dia e a vida do trabalhador,”