Moro admite que depoimento que vazou de Palocci não era 'grande novidade'

O juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, encaminhou resposta ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) – que pediu explicações suas sobre o vazamento da delação premiada de Antonio Palocci no dia 1º de outubro, véspera do primeiro turno das eleições.

Por Dayane Santos

Sergio Moro - Foto: Lula Marques/AGPT

O vazamento da delação, que se deu a seis dias das eleições, foi promovido por iniciativa de ofício do juiz – ou seja, sem que alguma das partes do processo tivesse provocado Moro nesse sentido. No pedido feito pelo PT ao CNJ, a legenda argumenta que Moro, ao adotar tal expediente, teria “desvirtuado-se de seu dever de serenidade para fazer inflamar a sociedade a partir de documentos que não passaram pelo crivo do contraditório, e que sequer teriam condições de assim o ser em razão da proximidade com o primeiro turno das eleições”.

Na resposta, Moro admite que "o conteúdo do depoimento sequer se revestiu de grande novidade", mas que não houve de sua parte "qualquer intenção de influenciar as eleições gerais de 2018".

O juiz de Curitiba afirmou ainda que "caso fosse intenção influenciar nas eleições teria divulgado a gravação em vídeo do depoimento, muito mais contundente do que as declarações escritas e que seria muito mais amplamente aproveitada para divulgação na imprensa televisiva ou na rede mundial de computadores".

Como percebemos, "influenciar" a conjuntura é ação que Moro entende muito. Para realizar suas ações, o juiz sempre escolhe datas muito especiais para vazar documentos ou áudios, como foi o caso da quebra ilegal do sigilo da então presidenta Dilma Rousseff em conversa com o ex-presidente Lula às vésperas da votação do impeachment na Câmara dos Deputados.

Antes disso, Moro também determinou a condução coercitiva de Lula às vésperas de sua posse como ministro da Casa Civil. Nada parece ser coincidência.

Parte da delação de Palocci já havia sido divulgada e tratava de supostas propinas da Odebrecht ao ex-presidente Lula. Moro deu publicou a outro trecho que foi tratado como "inédito" pela grande mídia, mas não trazia nenhuma novidade perante ao que já havia dito anteriormente.

Ao CNJ, Moro afirmou que "não pode interromper os seus trabalhos apenas porque há uma eleição em curso", mesmo afirmando que o conteúdo divulgado não afetaria as investigações ou o processo.

Segundo o magistrado, tirar o sigilo de parte da delação era uma medida "necessária pois caso haja condenação terá este Juízo, na sentença, que dimensionar benefícios decorrentes da colaboração para Antônio Palocci Filho". Até agora a sentença não foi proferida, pois Moro adiou alguns depoimentos.

"Foi promovida a juntada apenas de cópia do acordo, da decisão de homologação e do termo de depoimento da colaboração n.º 1, uma vez que, após análise, constatou este Juízo que a sua publicidade não prejudicaria as investigações em curso. Há outros depoimentos, alguns mais contundentes", disse ele.

Ataque ao PT

Utilizando a mesma tática de Jair Bolsonaro (PSL) em sua campanha eleitoral, de atacar o adversário ao invés de explicar seus erros, o magistrado apontou disse que uma "linha adotada por alguns agentes do Partido dos Trabalhadores de buscarem criminalizar a atividade jurisdicional".

Criminalizar a política e, principalmente, os PT e Lula tem sido uma conduta recorrente do juiz federal desde o início da operação Lava Jato.