UNE, UBES e ANPG assinam carta contra o ódio e em defesa da democracia

Entidades estudantis entregaram documento histórico a Manuela d’Ávila, candidata a vice-presidente de Fernando Haddad.

estudantes

Reunidos na sede das entidades estudantis, em São Paulo, na última sexta-feira (12) representantes das três entidades máximas, UNE, UBES e ANPG saíram em favor da democracia ao se posicionarem neste 2º turno das eleições presidenciais ao lado de Fernando Haddad. A indicação de voto no candidato foi aprovada de forma unânime pelas diretorias das entidades, assim como a convocação de todos os jovens brasileiros na luta contra o fascismo.

A carta construída pelos estudantes na ocasião foi entregue a Manuela d’Ávila, candidata a vice-presidente de Haddad. O documento ressalta o papel dos estudantes durante o período da ditadura, hoje amplamente exaltado pelo militar da reserva e candidato à presidente Jair Bolsonaro.

“Enxergamos na candidatura de Jair Bolsonaro a representação da ameaça democrática que o país vem vivendo”, destaca a carta.

Para Manuela d’Ávila, o documento representa a continuidade da luta estudantil em defesa da democracia.

”Que recepção na casa das entidades estudantis! Um lugar que acolheu meus sonhos de educação e do Brasil quando fui da UNE. Recebi a carta da UNE, UBES e ANPG em apoio à nossa chapa – Haddad e Manu – justo no dia que marca os 50 anos da prisão arbitraria de estudantes no congresso da UNE de Ibiuna. Os estudantes seguem lutando por um país democrático”, declarou a candidata.

Agora é a hora

Na opinião dos estudantes, a disseminação de notícias falsas vem prejudicando o debate eleitoral, que hoje parece apoiar-se em mentiras e não em argumentos e propostas efetivas para o país. Por isso, a orientação das entidades é a criação de comitês e assembleias de campanha pró-Haddad e pela democracia em cada escola, universidade e comunidade:

“Precisamos fomentar a disputa de projeto de país nas redes, construindo grandes correntes para combater as fake news, apresentar o programa de Haddad e combater o projeto reacionário de Bolsonaro. A derrota do nosso inimigo se dará nas ruas junto ao povo em luta, engrossando as fileiras de um Brasil soberano e democrático”.

Além desses apontamentos, dois dias de luta foram convocados: 20 de outubro,com um bloco da educação para se somar às manifestações chamadas por diversos setores, em especial as mulheres. E, no dia 26 de outubro, um dia nacional de mobilização nas escolas e universidades.

Para a presidenta da UNE Marianna Dias, os estudantes devem estar mobilizados contra tudo o que representa a candidatura de Bolsonaro.

”Não podemos deixar que um candidato que defende abertamente a tortura, que defende que os direitos dos trabalhadores sejam retirados, um candidato que votou em favor da PEC55 seja eleito. Por isso, vamos nos mobilizar. Com a juventude na linha de frente vamos dizer que aqui, ditadura nunca mais”, enfatizou.

Confira a carta na íntegra:

CARTA DA UNE, UBES E ANPG SOBRE O SEGUNDO TURNO DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2018

Mas ninguém se rendeu ao sono.
Todos sabem (e isso nos deixa vivos):
a noite que abriga os carrascos,
abriga também os rebelados.
Em algum lugar, não sei onde,
numa quebrada,
numa sala de aula,
no porão de alguma fábrica se traçam planos de revolta

As eleições presidenciais de 2018 vêm pautando o debate nas ruas e nas redes de todo o Brasil nos últimos meses. É um momento em que se coloca em evidência os projetos em disputa para o país e os rumos da democracia brasileira. Frente a esse histórico pleito, as entidades estudantis – UNE, UBES e ANPG – vêm a público manifestar suas preocupações e suas orientações aos estudantes brasileiros.

É notório a escalada de intolerância e da violência nessas eleições. Estão surgindo dezenas de denúncias de agressões e até casos de assassinato que se dão por divergências políticas. Faz-se necessário a denúncia de toda forma de supressão ao debate democrático e é fundamental também repudiar todos os discursos dos candidatos que fortaleçam o ódio e a violência.

Chegaram ao segundo turno os candidatos Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL). Frente à polarização de seus projetos que são antagônicos, as entidades estudantis sentem-se na obrigação histórica de pronunciar-se diante deste cenário de forma a cumprir seu objetivo e responsabilidade com a sociedade brasileira que passa pela defesa da democracia, educação, da ciência, dos direitos sociais e da soberania nacional.

A crise internacional tem imposto no mundo uma agenda de austeridade aos trabalhadores e estudantes e levado vários setores da sociedade a apoiar saídas radicais e autoritárias. É necessário o apoio de todas as nações democráticas para pressionar o Brasil a seguir no caminho da defesa dos direitos do povo brasileiro.

Por isso, indicamos o voto dos estudantes no candidato Fernando Haddad, pois enxergamos na candidatura de Jair Bolsonaro a representação da ameaça democrática que o país vem vivendo.

Democracia é um tema caro para nós e para o povo brasileiro. As entidades estudantis, tanto nacionais, quanto estaduais e locais, foram as primeiras vítimas dos regimes autoritários defendidos por Bolsonaro. A organização livre dos estudantes na época foi posta na ilegalidade, acompanhado de incêndios criminosos às nossas sedes. Nossas lideranças foram perseguidas, brutalmente torturadas e assassinadas. E ainda assim, mantivemos nossa bandeira azul contra o fascismo hasteada e assumimos a tarefa de reconquistar a democracia.

Por isso, a obrigação histórica daqueles que foram perseguidos e sofreram pelo punhal da ditadura militar é colocar-se contra os defensores da tortura e dos regimes ditatoriais e a favor de projetos nacionais com responsabilidade democrática. Esse autoritarismo de Bolsonaro é vinculado a um projeto que visa atacar a democracia para aplicar a qualquer custo as medidas neoliberais que retiram direitos dos trabalhadores para maximizar os lucros dos grandes empresários.

Assim, convocamos os estudantes brasileiros a estarem engajados na campanha presidencial apresentando cada vez mais as insuficiências e contradições do programa econômico de Bolsonaro, que nada tem de antissistêmico e se propõe a continuar a rejeitada política econômica de Temer. O seu compromisso com as medidas anti-povo de Temer como a Emenda 95 (PEC do teto de gastos), a reforma trabalhista que terceiriza e retira direitos, a privatização de estatais e aprovação a reforma da previdência precisam ser denunciados ao povo mais pobre e aos setores médios da sociedade.

O programa para educação de Bolsonaro é também absolutamente destoante da trajetória de lutas dos estudantes brasileiros. A defesa da redução da maioridade penal, a manutenção da emenda 95 (que ele apoiou no congresso) que congela os investimentos em educação, a ameaça a manutenção da política de ações afirmativas, as propostas de militarização da educação, a defesa do projeto Escola com Mordaça, a proposta de educação à distância no ensino fundamental e médio, desmonte da universidade pública e um programa vago para o setor educacional o colocam como o inimigo número UM dos estudantes e da educação.

Além disso, Bolsonaro não apresenta projeto concreto para a sustentação e desenvolvimento da ciência brasileira. O candidato propõe a extinção do Ministério da Ciência e Tecnologia associado a defesa do teto dos gastos e privatização das estatais brasileiras que são base para o desenvolvimento e ciência nacional. Este fato, coloca em risco todo o sistema nacional de ciência e tecnologia, incluindo a pós-graduação e Programas de Iniciação Científica (PIBIC) que vem colocando nossos jovens estudante em contato com a produção científica.

Ainda, Bolsonaro pretende aplicar esse programa de atraso usando medidas anti-democráticas, legitimando e institucionalizando a violência e a repressão contra os movimentos sociais, entidades estudantis, sindicatos e todos aqueles que se opuserem a esse projeto.

Por outro lado, a candidatura do professor Fernando Haddad, o responsável por projetos que impactaram Educação, como o processo de democratização do acesso à universidade pública e particular através do ENEM, SISU, PROUNI e a política de cotas; a abertura de centenas de Institutos Federais de educação; a criação do Plano Nacional de Educação e consolidação do Plano Nacional de Pós-Graduação; a valorização e expansão da pós-graduação; e, o piso nacional para professores são alguns projetos que modificaram a educação.

Somado a isso, o projeto representado por Fernando Haddad tem se colocado como um amplo e plural polo democrático que, ao contrário do projeto de Bolsonaro, defende a democracia, o combate às desigualdades sociais, a valorização do trabalho, tendo a educação e a ciência como alicerce para um projeto nacional.

É urgente a convocação de assembleias para debater a posição dos estudantes nesse segundo turno e a criação de comitês de campanha pró-Haddad/pela democracia em cada escola, universidade, comunidades e bairros por esse país para organizar essa parcela significativa de estudantes que querem se engajar nesse momento de defesa dos direitos, da democracia e do Brasil. Precisamos fomentar a disputa de projeto de país nas redes, construindo grandes correntes para combater as fake news, apresentar o programa de Haddad e combater o projeto reacionário de Bolsonaro.

Precisamos estar atentos e fortes para os tempos que virão, a derrota do nosso inimigo se dará nas ruas junto ao povo em luta, engrossando as fileiras de um Brasil soberano e democrático.

Convocamos ainda dois grandes dias de mobilização para ocupar novamente as ruas contra Bolsonaro e em defesa da democracia: no dia 20 de outubro organizaremos um bloco da educação que se somará às manifestações chamadas por diversos setores, em especial pelas mulheres que vem protagonizando a resistência ao conservadorismo com atos em todo o Brasil e, no dia 26 de outubro, faremos um dia nacional de mobilização nas escolas e universidades.

O ódio, a violência e as mentiras não amedrontarão os estudantes brasileiros. Acreditamos em nosso povo e suas potencialidades e, por isso, defendemos um futuro para o Brasil em que cada jovem tenha em uma mão um livro e na outra uma carteira de trabalho e não uma arma. Defendemos que em cada bairro do nosso país tenhamos uma escola e não mais um presídio. Sabemos que educação e ciência e tecnologia possuem enorme capacidade para geração de riquezas e de transformação social para reduzir as desigualdades sociais que assolam o nosso país. Nesse sentido, a União Nacional dos Estudantes, a União Brasileira de Estudantes Secundaristas e a Associação Nacional de Pós-Graduandos convocam todo o corpo discente brasileiro a se engajar na campanha de Fernando Haddad e Manuela D’Ávilla afim de defender nossa democracia. Só o voto 13 pode derrotar as forças conservadoras, anti-populares e reacionárias e defender e garantir uma nação soberana com acesso à uma educação e ciência pública, gratuita e de qualidade.

São Paulo, 12 de Outubro de 2018