"EUA se une às elites para barrar a força do povo", diz especialista

O cenário das disputas políticas na América Latina, nos últimos anos, é marcado pela ofensiva violenta dos EUA, que se utiliza de diversas táticas e manobras para manter o controle e ampliar a exploração máxima do trabalho, do capital e dos recursos naturais.

Igor Fuser - Divulgação

Para o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC), Igor Fuser, essa ofensiva se caracteriza pela aliança do governo americano com as elites locais para não permitir a implementação das políticas sociais dos governos progressistas.

"A realidade política de cada país está estreitamente ligada à realidade dos demais países da América Latina. As questões que estão em jogo são as mesmas. O imperialismo americano não está mais disposto a aceitar nenhum tipo de reforma social em favor dos trabalhadores, não está disposto a aceitar políticas públicas que distribuem a renda, que ampliam a participação das classes desfavorecidas na riqueza nacional", disse o professor.

Neste sentido, Fuser aponta que os ataques da elite e da burguesia são para desestimular e barrar os programas voltados para áreas sociais, como saúde pública, educação pública e moradia, e ganhos reais da classe trabalhadora.

"A elevação real dos salários, como nós tivemos no Brasil, nos governos do Lula e da Dilma; e como tivemos em outros países da América Latina, com governos progressistas, como na Argentina, e ainda temos na Bolívia; as classes dominantes locais e, por trás delas, os Estados Unidos, querem espremer a população, a classe trabalhadora da América Latina, até o limite. Retirar até a última gota de suor e, se nós resistirmos, até a última gota do nosso sangue", disse.
O professor analisou também as estratégias usadas para manter a exploração da classe trabalhadora.

"Eles não se detêm diante da democracia, não se detêm diante dos Direitos Humanos, não de detêm diante dos valores básicos da verdade e da decência. Eles se utilizam de todos os meios para garantir a máxima acumulação do capital. Eles utilizam todas as armas, golpe de estado, desestabilização de governos, mentiras, fraudes judiciárias. O uso desenfreado do arbítrio, como nós tivemos com a prisão do presidente Lula, também estão tentando prender outros líderes da América Latina, como a ex-presidente da Argentina Cristina Kishner, o ex-presidente do Equador Rafael Correia", disse.

Fascismo

No momento, em todo mundo, surgem focos de ascensão da ideologia fascista promovida por grupos conservadores. Porém, no caso do Brasil, há elementos mais preocupantes do que aconteceu nos EUA, com a vitória do candidato de direita Donald Trump. Como avalia o ex-chanceler Celso Amorim, ministro de Relações Exteriores no governo Lula. A opinião é compartilhada pelo professor Fuser.

Ambos consideram que, apesar da guinada à direita, os EUA não tiveram a sua democracia atacada. Os direitos de opinião foram preservados. No entanto, aqui no Brasil, a eventual eleição de Bolsonaro significaria um retrocesso sem dimensões, com a perseguição a sindicatos e movimentos populares.

"No mundo inteiro a democracia se vê em risco com ascensão da extrema direita, de fascistas, de nazistas que tentam chegar ao poder pelas eleições, manipulando os preconceitos existentes em todas as sociedades, manipulando o descontentamento com a crise econômica. O risco da vitória de um candidato abertamente fascista, tanto do Bolsonaro e o seu vice, o general Mourão, personagens nefastos, é extremamente preocupante. O mundo inteiro está ansioso, olhando para as eleições brasileiras, torcendo para que tenhamos uma vitória da democracia", avalia o especialista.

O professor destaca também que o Brasil tem uma posição importante no cenário internacional, principalmente pela sua economia e sua posição na América Latina.