Juninho: 'A grande mídia vai apoiar o Bolsonaro se ele for pro segundo turno'

Em entrevista ao El País, publicada nesta sexta-feira (5), o ex-meia Juninho Pernambucano fala sobre sua saída do Brasil após o rompimento de contrato com a Rede Globo, onde era comentarista de futebol desde 2014.

Juninho Pernambucano - Reprodução

Em abril, durante programa da SporTV, Juninho criticou os jornalistas que cobrem os clubes afirmando que “são muito piores hoje em dia”. A direção da emissora de canal fechado de esportes da Globo emitiu uma nota oficial condenando os comentários do ex-jogador.

“Me contrataram para dar opinião. Eu criticava quem tivesse que criticar. Enquanto a Globo me deixou trabalhar, fiz minha parte. Saí de consciência limpa. Não vendi minha alma nem meu caráter”, disse.

Na entrevista, Juninho fala sobre a momento político que o Brasil vive e o que considera uma ameaça à democracia, a ascensão de candidatos com propostas da extrema-direita.

“Nossa democracia é muito jovem, mas o básico seria entender que o voto tem peso igual. Negro, branco, pobre, rico: nenhum voto vale mais que outro. O problema é que, depois de tanto tempo de esquerda no governo, o desespero pela retomada do poder cegou algumas pessoas”, afirmou o ex-jogador.

“Precisou de quantos para tirar a Dilma? Aécio, Eduardo Cunha, Temer e… a imprensa, pô! Rasgaram nossos votos e nos levaram a esse terror. Que tirassem a Dilma agora, nas urnas. Por pior que estivesse o país, não chegaria nessa situação, em que um extremista é cotado à Presidência. Pode escrever aí: a grande mídia vai apoiar o Bolsonaro se ele for pro segundo turno”, cravou Juninho.

Lula

Sobre o Lula, ele recorda que o viu apenas uma vez, durante um jogo no Haiti. “Ele foi lá, agradeceu a gente e deu uma carta para cada um. Foi a única vez que estive com ele”, contou.

Juninho afirmou que tem muita admiração pelo ex-presidente. “Eu o admiro muito. Ninguém vai apagar o que ele fez por esse país”, salientou.

Para ele, Lula está sendo perseguido e explica porque: “O Lula é um senhor de 72 anos que está sendo massacrado. Por que as pessoas odeiam o Lula? O que odeiam nele é a aparência, a origem, o sotaque, a história e a popularidade. Se fizer um teste de ódio nas ruas, colocando um boneco do Lula ao lado de um do Aécio, vai sobrar para o Lula. Nem se compara. A elite exerce um domínio mental. Funcionário usar roupa branca na sua casa, uma coisa do tempo da escravidão. Como tenho boa condição, eu vivia entre os bacanas, morava em condomínio de rico. E via o pai passando esse ódio pro filho, uma coisa surreal”.

Sobre o apoio a bandeiras totalitárias, Juninho afirma que “muitos brasileiros ignoram que outros foram torturados e assassinados na ditadura”.

“É desesperador ver gente apoiando intervenção militar. O Exército existe para defender o país, proteger as fronteiras, não para matar brasileiro na favela. Eles não foram treinados pra isso. Dizem que eu defendo bandido. Mas a gente tem que parar com essa história de achar que todo crime é igual. Uma coisa é assassino, outra é o cara que rouba”, rebateu

Juninho afirma que colocar um jovem de 18 anos que roubou num presídio não resolve o problema. “Ali é categoria de base para o crime. Quando o cara sai, ele quer se vingar da sociedade. Por isso que eu me revolto quando vejo jogador e ex-jogador de direita. Nós viemos de baixo, fomos criados com a massa. Como vamos ficar do lado de lá? Vai apoiar Bolsonaro, meu irmão?”, indaga.

Ainda sobre o ambiente de intolerância que prevalece em nossa sociedade e como ele lida com tal situação, o atleta afirma: “Uma das minhas filhas nasceu em Recife, as outras duas, em Lyon. Minha neta vai ser filha de nordestina com americano descendente de chineses. Será que não tem diversidade na minha família? Sou um cidadão do mundo. Não posso ser intolerante com as diferenças. A única ressalva são os extremistas. Será que um cara que crê na existência de ‘raças humanas’ e propaga discurso de ódio merece a democracia?”.