Empresário que vota em Bolsonaro quer impor novo voto de cabresto

A lógica escravista da reforma trabalhista deixou empresários à vontade para praticar às vésperas das eleições presidenciais um novo voto de cabresto. Essa prática foi largamente utilizada nos fins do século XIX por donos de terras que obrigavam escravos, ex-escravos e trabalhadores a votarem nos candidatos escolhidos pelo patrão. Nesta semana, empresários eleitores do candidato Jair Bolsonaro (PSL) foram denunciados e punidos pela Justiça do Trabalho.

Por Railídia Carvalho

Devedor da Previdência, Luciano Hang é apoiador de primeira hora de Bolsonaro

Luciano Hung, dono da rede de lojas Havan, localizada na região Sul, postou vídeo na semana passada em que prega o voto contra a esquerda nas eleições, especialmente contra o PT e o PCdoB. O empresário ameaça fechar lojas e demitir trabalhadores. Hang é eleitor do candidato do PSL à presidência Jair Bolsonaro. Proibido pela Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de Santa Catarina, o empresário terá que se retratar diante dos empregados afirmando que eles tem o livre direito de escolher os candidatos. Se não o fizer pagará multa de 500 mil reais.  

Na opinião do metalúrgico Marcelo Toledo, a pressão de empresários sobre trabalhadores faz parte do jogo político do golpe que levou Michel Temer à presidência em 2016. “Após o golpe, esses empresários que promoveram o impeachment reuniram todas as condições para eleger os candidatos que os representam, que neste caso é o Jair Bolsonaro, que votou a favor da reforma trabalhista, por exemplo”.

O advogado trabalhista Magnus Farkatt reitera que a lógica de desregulamentação das relações de trabalho em vigor no Brasil desde a reforma trabalhista é o que alimenta uma parcela dos empresários a coagirem trabalhadores. “Em última análise essa desregulamentação tira a proteção da lei e deixa o mercado regular. Quando isso acontece o trabalhador tem o salário reduzido e perde direitos”.

Segundo ele, esse cenário levou os empresários há retomarem o que acontecia há 80 anos que era o chamado voto de cabresto. “Alguns empresários se sentiram à vontade para dar um passo adiante a ponto de se sentirem proprietários da vontade de cada empregado impondo a eles em quem deveriam votar”.

Toledo alertou que essa desregulamentação das relações de trabalho ao limite pode ser um tiro no pé desse empresário. “Essa agenda apoiada pelo candidato Bolsonaro agravou a crise no Brasil e precarizou o trabalho. Os patrões que fazem essa pressão podem se arrepender porque se a massa salarial cair 30%, 40% em função da política defendida pelo candidato deles vai implicar na queda do consumo das mercadorias. Daí vai ter muito mais empresa nacional fechando do que tem hoje”.

Magnus elogiou a ação do Ministério Público do Trabalho. “O MPT agiu rápido e cumpriu bem com a sua função constitucional de defesa da ordem jurídica. Não podia permitir que o exercício da cidadania ficasse aprisionado pela ação de empresários sem escrúpulos”.