“As elites deste país sempre foram atrasadas”, afirma Ricardo Semler 

 Em artigo publicado no jornal Folha de São Paulo, edição desta terça-feira (2), o empresário Ricardo Semler (Semco Style Institute e escolas Lumiar), faz uma corajosa crítica aos segmentos empresariais que manifestam simpatia em Jair Bolsonaro para evitar a “volta do PT” ao governo.

Ricardo Semler - Foto: Divulgação

No artigo intitulado “Alô, companheiros de elite”, Semler lembra que as elites em torno da Federação das indústrias de São Paulo (Fiesp) já erraram com Collor, Temer e Doria. “Agora, estremeço ao ouvir amigos, sócios e metade da família aceitando a tese de que qualquer coisa é melhor do que o PT. Lá vamos nós, de novo.” Será? “Não compartilho com os pressupostos ideológicos do PT e —até pouco— fui filiado a um partido só, o PSDB. Nunca pensei em me filiar ao PT, nunca aceitaria envolvimento num Conselhão de Empresários, por exemplo. Apenas reconheço que as elites deste país sempre foram atrasadas, desde antes da ditadura, e nada fizeram de estrutural para evitar o sistema de castas que se instalou”, ataca Semler.

“Este é um país que precisa de governo para quem tem pouco, a quase totalidade dos cidadãos. Nós da elite, aliás, sabemos nos defender (…). Quem terá coragem, num almoço da City de Londres, de defender a eleição de um capitão simplório, um vice general, um economista fraco e sedento de poder, e novos diretores de colégio militares, com perseguição de gays, submissão de mulheres e distribuição de fuzis à la Duterte?”, alfineta o empresário.

Ao fim do artigo, um alerta: “Colegas de elite, acordem. Não se vota com bílis. O PT errou sem parar nos 12 anos, mas talvez queria e possa mostrar, num segundo ciclo, que ainda é melhor do que o Centrão megacorrupto ou uma ditadura autoritária. Foi assim que a Europa inteira se tornou civilizada. Precisamos de tempo, como nação, para espantar a ignorância e aprendermos a ser estáveis. Não vamos deixar o pavor instruir nossas escolhas. O Brasil é maior do que isto, e as elites podem ficar, também. Confiem”.