Pré-sal: mais um leilão escandalosamente entreguista

Os golpistas abriram as portas das reservas brasileiras de petróleo para as multinacionais. Sob a farsa de combate à corrupção na Petrobras, o país passa por um escandaloso processo de entrega das riquezas nacionais.

Por Osvaldo Bertolino

pré-sal

Uma frase de um recente anúncio publicitário do grupo norte-americano Chevron Texaco ilustra o dramático aumento do consumo de petróleo no planeta nos últimos anos: foram necessários 125 anos para que o mundo consumisse o primeiro trilhão de barris de petróleo, mas bastarão 30 anos para consumir o segundo. O mundo nunca usou tanto petróleo. O consumo global está prestes a empatar com a oferta, no patamar de 86 milhões de barris por dia. Prever até onde vai essa escalada é um exercício de futurologia — a Agência Internacional de Energia (AIE), por exemplo, diz que a produção mundial vai atingir o pico em algum ponto ''entre 2013 e 2037''.

O alerta é especialmente válido para países que têm no petróleo um importante ponto de apoio para a sua soberania. Não sem motivo, o Brasil, com reservas ainda incalculáveis e praticamente no caminho de se tornar um exportador de petróleo, é um território muito cobiçado. A vitória das petrolíferas estrangeiras no recente leilão da 5º rodada do pré-sal, que fez a Patrobras parecer insignificante nesse jogo, é mais uma evidência de que o projeto golpistas veio para entregar também as sagradas riquezas do subsolo brasileiro.

Cartel midiático

Para chegar a esse ato de lesa-pátria, os usurpadores fizeram transformações regulatórios no setor, retirando da Petrobras a condição de operadora única, liquidando o regime de partilha, reduzindo a exigência do conteúdo local e ampliando incentivos tributários. Tudo isso formulado sob o argumento de que uma empresa estatal tem mais probabilidade de se contaminar com a corrupção. No mundo real, contudo, o processo-farsa que a Operação Lava Jato montou para supostamente desbaratar uma gigantesca teia de "caixa dois" acabou em meras perseguições políticas seletivas, sem nenhuma consequência ou comprovação concreta de que o objetivo era verdadeiramente esse.

Acobertado pelo cartel midiático, o grupo comandado pelo juiz de primeira instância Sérgio Moro não mostrou nada mais do que evidências há muito conhecidas, especialmente desde que e “era” Fernando Henrique Cardoso (FHC) pôs a Petrobras no rol das privatizações, uma operação permeada por negociatas. Com o agravante de que a Operação Lava Jato abriu as portas para as grandes empresas que monopolizam o setor em âmbito mundial — muitas com fichas mais sujas do que a atribuída à Petrobras — ocupasse o setor, manobra que se consumou com o golpe do impeachment da presidenta Dilma Rousseff em 2016.

Acumulação financeira

Neste leilão, por, exemplo, as petroleiras norte-americanas ficaram de 40% do volume de reservas. Nos últimos cinco leilões realizados, coube à Petrobras apenas 25% do total, ao passo que as petroleiras do Reino Unido (Shell e BP), dos Estados Unidos (ExxonMobil e Chevron) e da China (CNOOC, CNPC, CNODC e Repsol Sinopec) obtiveram, respectivamente, 26,2% (13,5 bilhões), 20% (10,3 bilhões) e 9,5% (4,9 bilhões) das reservas. Esses números representam o avanço do processo de desmonte da Petrobras, iniciado na “era FHC” e acelerado com o espectro da Operação Lava Jato, que pavimentou o caminho do golpe de 2016.

Antes desse movimento golpista, o pré-sal era tido como importante patrimônio nacional. Seria a fonte de financiamentos para projetos de cunho social, especialmente nas áreas de saúde educação, e até blindagem para a conta de transações correntes (comércio e serviços), permitindo, assim, que o país pusesse em prática um plano estratégico de desenvolvimento. Hoje, o pré-sal serve tão somente aos projetos do governo golpista, basicamente à acumulação financeira que alimenta a ciranda do rentismo. Para girar esse mecanismo que parasita a economia nacional, os usurpadores de 2016 não hesitam em entregar descaradamente esse importante patrimônio nacional — de resto uma premissa que está no programa de todos os candidatos da direita, sob a alcunha de “ajuste fiscal”.