Manuela: 'Para trás a gente só anda para pegar impulso, não vamos retroceder'

“Para trás a gente só anda para pegar impulso. Então não vamos retroceder em nenhum direito”, afirmou a candidata a vice-presidente da República, Manuela d’Ávila (PCdoB), participou nesta sexta-feira (28), do evento Mulheres na Política, promovido pelo jornal El País e pelo Instituto Locomotiva, com apoio da ONU Mulheres, e com a participação de outras candidatas.

Por Dayane Santos

Manuela debate vices - Reprodução

“A nossa candidatura tem um projeto que é todo focado para a questão das mulheres, porque os grandes problemas que afetam as mulheres brasileiras têm relação intrínseca com os dilemas que o Brasil vive hoje”, enfatizou Manuela, ressaltando que o mundo do trabalho é um dos principais pontos do plano de governo da coligação, tendo como questão crucial a revogação da reforma trabalhista.

“A nossa preocupação hoje é com o mundo do trabalho. Nós mulheres trabalhamos mais e somos menos remuneradas. Mas também queremos garantir uma agenda de retomada dos direitos dos trabalhadores. Com a reforma trabalhista, o trabalho mais precarizado é o da mulher”, afirmou. “Se com a CLT nós já tínhamos os trabalhos mais precarizados, sem ela as mulheres serão jogadas à miséria”, acrescentou.

Ao falar sobre como se dá a construção da igualdade entre homens e mulheres, Manuela salientou que é resultado de um conjunto de medidas. “É impensável que apenas uma ação construirá a igualdade. Nós temos dito muito, eu o Haddad, que essa etapa do desenvolvimento do Brasil deve se dar com o mundo do trabalho”, argumentou.

Citando a pesquisa Locomotiva sobre a mulher no mercado de trabalho, Manuela destacou que metades das mulheres mães não retornam ao mercado de trabalho depois do primeiro ano o filho. “Se a gente soma isso a jornada de trabalho das mulheres, a ausência de equipamentos que cuidem de nossos filhos – não que o cuidado dos filhos tenha que ser só nosso, mas na sociedade machista é majoritariamente das mulheres. E quando o estado falta, quem cuida da criança é a mulher sozinha. Portanto, é preciso pensar em medidas relacionadas ao mundo do trabalho, citando novamente o combate à desigualdade salarial, a criação de creches e a revogação da reforma trabalhista”, apontou.

Ela também voltou a defender a revogação da Emenda 95, do teto de gastos, que tem impedido que o estado faça investimentos públicos em educação, saúde e segurança. “E as mulheres sabem o peso que isso faz”, asseverou.

Para a candidata, a revogação da emenda do teto vai ajudar as mulheres a vencer obstáculos, pois os investimentos públicos ajudam na emancipação das mulheres. “Sempre digo que, quando falta estado, quem é punido é a mulher. É muito fácil para um candidato homem dizer que tem estado demais. Pergunta para uma mãe se ela acha que tem estado demais… As mulheres sabem que o estado falta, por isso é preciso revogar a Emenda Constitucional 95”, disse.

Manuela reforçou que a revogação da medida tem efeito não somente par as mulheres, “mas é importante para a economia também”. “É justo socialmente, mas é fundamental para a retomada do desenvolvimento econômico”, frisou.

Ao comentar a pergunta de uma das jornalistas sobre quem vai empoderar as mulheres, Manuela disse: “Quem nos empodera somos nós mesmos. Creio que esse tempo une as várias lutas de todas as mulheres, pois tudo que a gente conquistou até aqui foi com muita luta e muita resistência. Nós vivemos agora um tempo que tem algo novo que é a dimensão de unidade e o que chamamos de sororidade”, afirmou.

Sobre o tema violência contra a mulher, Manuela destacou que é preciso enfrentar a cultura do estupro. “Lutamos para prender os agressores e para tipificar o feminicídio? Lutamos. São avanços evidentes que o Brasil conquistou. Mas eu não quero que minha filha seja morta. Não quero que ela seja estuprada. Então, precisamos construir um Brasil em que homens tratem mulheres como suas iguais e não como sua propriedade. Por isso, é tão importante nós condenarmos o discurso misógino a nós mulheres de determinados candidatos”, declarou.

Manuela fez questão de destacar que não se trata de uma reclamação, mas um tema que deve ser cada vez mais debatido na sociedade. “Não é mimimi. É porque isso nos mata. Nos persegue. Isso faz com que sofremos assédio nos ônibus”, lembrou.

Ao ser questionada sobre a política de segurança no Brasil, Manuela disse considerar um “fracasso”. “Temos cada vez mais armas, mais presídios. Cada vez mais presos e cada vez mais violência. Cada vez mais homens e mulheres se sentem mais inseguros, e com razão. Cada vez mais as mulheres, sobretudo as mulheres negras, enterram os seus filhos cada vez mais jovens. O estado brasileiro pratica o racismo e o machismo de forma estrutural”, avalia.

Uma das jornalistas questionou a candidata sobre qual seria o passo fundamental para unir o Brasil, diante da polarização que o país vive atualmente. Para Manuela, é necessário compreender qual é a origem desse cenário. “A origem disso se deu no impeachment quando eles não reconheceram o resultado das eleições. Depois não deixaram a presidenta Dilma governar votando contra por votar, porque era o PT. E fomentando o ambiente de ódio na nossa sociedade que pariu um candidato que odeia todos”, destacou.

Vencer essa situação, segundo Manuela, é por meio de um projeto de crescimento que inclua as pessoas. “E não um projeto que exclua mais milhares de homens e mulheres. Nós temos esse projeto e, mais do que isso, temos um candidato experiente, sereno e firme, características que são imprescindíveis para que a gente possa levar esse projeto para o governo”, defendeu.

E completa: “Fui deputada por 8 anos. Não se resolve isso no grito. Não se resolve isso falando palavrão, mas construindo pontes a partir de um programa. Pontes a partir de ideias. E Haddad é o mais qualificado e capacitado para fazer o país a voltar a crescer, gerando emprego e aumentando os investimentos públicos”.

“Nós precisamos devolver a paz para o Brasil”, disse Manuela. “E a paz chama-se geração de emprego, de renda, saúde, educação, creche e mulheres tratadas com dignidade. As mulheres dirão hoje, amanhã e seguirão dizendo no dia 7 e até que todas sejamos livres: Ele não! Eles não! E todos que representam ele. Ele nunca!”, concluiu.