Dirceu: Eleger Bolsonaro levaria país a retrocesso de 50 anos

Em entrevista à rádio CBN, o ex-ministro da Casa Civil no governo Lula, José Dirceu, afirmou que uma eventual eleição de Jair Bolsonaro (PSL) representaria um retrocesso democrático. e a sua política econômica seria “um arrasa-quarteirão de neoliberalismo, de austeridade radical”.

José Dirceu Nocaute - Reprodução

“Retrocesso não só democrático, mas principalmente um retrocesso gravíssimo que fará o Brasil andar 50 anos para trás nos direitos da mulher, na questão do combate ao racismo, na questão da igualdade, na questão de aceitar a diferença, [na questão] de terminar os preconceitos no país. Inclusive com [risco de] censura, pois vivem querendo censurar exposição de arte”, afirmou Dirceu, que percorre o país para lançar o livro “Zé Dirceu, Memórias – volume 1”, em que o ex-ministro falou da militância contra a ditadura, dos governos Lula e Dilma e do quadro eleitoral atual. .

Para o ex-ministro, o plano de governo proposto pelo guru econômico de Bolsonaro, o economista Paulo Guedes, seria um retrocesso para o país. “A Argentina está aí para mostrar para nós o que dá isso”, lembrou.

Numa avaliação crítica sobre os governo Lula e Dilma, o ex-ministro disse que “erros, nós cometemos muitos, mas o balanço é que nossos acertos foram maiores", pois "do contrário, não teríamos a votação que o Lula teria para presidente".

"Ele ganharia a eleição, tudo indica, no primeiro turno”, enfatizou Dirceu, que comentou o ambiente de intolerância que tem prevalecido no debate político no Brasil. “Nós nunca pregamos o ódio e a violência. O governo do Lula foi um governo de diálogo, de conciliação", afirmou.

Dirceu também lembrou que a esquerda sofreu “a violência, ódio nas ruas, entre 2013 e 2016, fomos cuspidos, chutados, nossa bandeira foi rasgada, expulsos de ambientes públicos e não respondemos na mesma altura”.

“O problema nosso é que nós não mobilizamos a sociedade para pressionar o Congresso, como foi feito para tirar a Dilma num golpe parlamentar, sob pressão de milhões de pessoas do país todo. (…) Não acredito que seja por isso que ela foi tirada [erros na política e na economia]. A Dilma propôs um ajuste fiscal que o próprio Tasso Jereissati [senador e ex-presidente do PSDB] reconhece que eles votaram contra. (…) A recessão teria sido passageira”, enfatizou.

Sobre o impeachment contra a presidenta eleita Dilma Rousseff, sem crime de responsabilidade, Dirceu questionou por que ela la “não pode cumprir o mandato, se o Fernando Henrique [presidente entre 1995 e 2002] cumpriu o mandato dele dobrando a dívida pública, elevando a carga tributária, quebrando o país duas vezes com a questão do câmbio fixo?”. Ele enfatizou que foi contra o PT pedir impeachment do tucano naquela época.

Para ser reeleito, argumenta o petista, FHC não disse que iria desvalorizar o câmbio e depois desvalorizou. “Nem por isso é razão para derrubar o Fernando Henrique, fazer impeachment do Fernando Henrique, como foi da Dilma. Foi um erro o impeachment, um erro gravíssimo, rompeu o pacto social e político que levou anos, décadas para o Brasil reconstruir… agora o país está pagando por isso”, destacou.

Dirceu rebateu a tese lançada pela mídia e endossada pelos tucanos para tenta esvaziar a campanha eleitoral de que as candidaturas do PT-PCdoB e a de Bolsonaro são os extremos.

“O PT, mesmo impedido o Lula de ser candidato, decisão infame, está na disputa eleitoral apresentando candidato com uma vice do PCdoB. Fez uma aliança com o Pros. O PT está completamente dentro da democracia. (…) Se ganharmos, temos o direito de aplicar nosso programa e de levar para o Congresso as nossas reformas. (…) Vamos governar dentro daquilo que a Constituição permite. Apesar de tudo o que aconteceu, estamos disputando eleição dentro das regras”, destacou.