Trump provoca risadas de líderes: estaria a reputação dos EUA em jogo?

Após falar que sua administração conquistou mais do que qualquer outra na história dos Estados Unidos durante seu discurso na Assembléia Geral da ONU, Donald Trump fez os outros líderes caírem na risada; a imprensa norte-americana não perdoou. Seria a perda da reverência aos EUA por parte do mundo?

Por Alessandra Monterastelli

Trump

Donald Trump começou seu discurso na Assembléia Geral da ONU, na terça-feira (25), sem popuar elogios a sua administração, que segundo ele "realizou mais do que qualquer administração na história" dos Estados Unidos; após essa afirmação, o público caiu na risada. Trump, surpreso, disse: "eu não esperava essa reação, mas tudo bem". 

"Na verdade, não está tudo bem. O presidente da América foi ridicularizado abertamente no fórum internacional mais importante", diz o editorial do jornal estadunidense The New York Times. Trump também disse que os EUA "rejeitam a ideia do globalismo" e ednossam "a doutrina do patriotismo"; isso explicaria a saída do presidente de diversos acordos (como o de Paris, o nuclear) e instituições internacionais (Unesco, Tribunal Penal Internacional). Sobre isso, o editorial do Times disse: "O presidente parece não ter entendido que as organizações que criticou, incluindo a Organização Mundial do Comércio, fazem parte de um sistema pós-Segunda Guerra Mundial estabelecido pelos Estados Unidos e seus aliados e que a América ainda tem considerável influência para realizar reformas, desde que seus líderes estejam comprometidos o suficiente para tentar". E conclui: "para Mr. Trump, é tudo sobre a mensagem política para o seu público interno". 

O The Guardian US disse que "Donald Trump está acostumado a falar com apoiadores obstinados em comícios. Suas conferências de imprensa são raras e rigidamente controladas. Portanto, o escárnio aberto de seus colegas líderes na Assembléia Geral da ONU foi claramente uma surpresa". E críticou a participação do presidente na conferência, diante de sua política internacional de afastamento: "Enquanto a maioria dos líderes usou seu tempo no palco da ONU para listar os acordos que fizeram, os protocolos acordados e os tratados assinados, Trump ficou encantado em contar para o mundo quantos pactos ele havia rasgado". "Qualquer fagulha remanescente de altruísmo foi destruída nesta visão da política externa dos EUA, e em seu lugar havia um forte toque de ressentimento e autopiedade", concluiu o veículo. 

O The Washington Post não ficou para trás. Dois títulos estavam na capa do jornal nesta quarta-feira (26): "Vocês estão certas, Nações Unidas: a política externa de Trump realmente vale uma risada" e "As pessoas realmente riram do presidente: no discurso da ONU, Trump sofre o destino que sempre temeu". Max Boot, colunista e responsável pelo primeiro artigo, lembrou que em 2014 Trump tweetou que "nós [EUA] precisamos de um presidente que não seja motivo de risadas para o resto do mundo". "Os líderes mundiais sabem que Trump mostrou muito pouco em vinte meses de administração que não seja caos desnecessário e confusão", escreveu Boot, explicando as risadas após a afirmação do presidente de que sua administração tinha sido a melhor dos EUA até agora. 

"Trump é uma personalidade instável que produziu uma administração instável – e assim sendo um mundo instável" continua o jornalista. Para ele, o discurso do presidente só relembrou todos de como Trump é "disfuncional e perigoso". O seu apelo previsível ao unilateralismo apenas sublinha o fato "desanimador" de que ele continua determinado a desfazer "a ordem mundial liderada pelos americanos" criada após a Segunda Guerra. 

Essa ordem mundial tanto citada pelos jornais norte-americanos, apesar de defeituosa (cita-se, apenas como exemplo, o imperialismo sobre países considerados subdesenvolvidos), trouxe algumas coisas positivas (como a ideia do respeito essencial aos Direitos Humanos). Mas, além disso, era o grande orgulho do establishment dos EUA: garantia que a grande nação capitalista fosse respeitada e admirada por todos ao redor do mundo, e se impusesse naturalmente seus interesses. Agora, Trump ameaça colocar essa ordem em ruínas, isola os EUA e perde o apreço dos outros países.