Governo da Colômbia não dá sequência à negociação de paz com ELN

O Exército de Libertação Nacional (ELN) criticou nesta segunda-feira (24) a decisão do governo do presidente da Colômbia, Iván Duque, de não nomear uma equipe que dê sequência às negociações de paz, que ocorrem desde 2017.

Pablo Beltrán - Divulgação

Em texto divulgado no portal ELN Voces, a guerrilha afirmou que o atual governo faz “múltiplas declarações contra o processo em curso” e que a falta de interesse por resoluções o “invalida como interlocutor”.

“O ELN é uma força insurgente e não está obrigado a cumprir a legalidade do Estado colombiano até que haja um acordo de superação definitiva do conflito, onde as partes se sintam satisfeitas”, diz o comunicado.

As críticas a Duque, que tomou posse em agosto após ser eleito em junho, estão relacionadas, segundo o texto, com o “desconhecimento de acordos firmados” até então. De acordo com a guerrilha, o governo “nega que a paz deva ser uma política estável e duradoura”.

Duque representa os setores mais extremos da direita colombiana e é apadrinhado por Álvaro Uribe, o ex-presidente que mais atacou as organizações sociais e perseguiu as guerrilhas do país.

Em um dos nove manifestos publicados no portal, a organização também destacou que a presença de “países e instituições” no acompanhamento das negociações de paz deve ser levada em conta, à medida que o impasse é “imprudente e afetaria qualquer pedido similar” feito futuramente. A intenção do grupo é que haja manutenção das “garantias acordadas com a comunidade internacional”.

O ELN também solicita que quaisquer intenções do governo de encerrar as tratativas sejam reportadas à mesa de negociações em Cuba, onde as partes têm dialogado desde maio de 2018. O grupo encerou dizendo que seguirá disposto a avançar com o “processo de solução política do conflito”.

Retrospecto de negociações

As negociações de trégua entre guerrilha e Bogotá ocorrem desde 2017, quando a rodada de diálogos se iniciou em Quito, capital do Equador. Desde então, as decisões oscilam entre o cessar-fogo e a retomada dos conflitos.

Após o acordo de paz com as Farc em 2016, a atividade do ELN, autodeclarada última guerrilha ativa do país, passou a ser o grande foco de resolução do governo Duque. O presidente prometeu endurecer nas negociações.

No último dia 4 de setembro, a guerrilha anunciou a soltura de prisioneiros. Os homens foram capturados nas cidades de El Chocó e El Arauca e estavam sob poder do ELN havia um mês. A libertação dos presos, segundo os guerrilheiros, ocorreu para evitar um “desenlace fatal”.

A organização afirma ter cerca de 1.500 integrantes e atua em cerca de 10% dos municípios colombianos, segundo a Fundação Paz e Reconciliação.