Um dos mais ativos militantes, Zezinho é agora cidadão do Recife
José Inácio Barbosa é um dos mais antigos militantes do PCdoB em Pernambuco. Zezinho, como é conhecido, é figura emblemática do partido no estado. Nascido no município em 1936, no Engenho Olho D’Água, em Bom Jardim, no Agreste pernambucano, ele se torna nesta sexta-feira (21) também um cidadão do Recife. A entrega da honraria proposta pelo vereador e candidato a deputado pelo PCdoB, Almir Fernando, será entregue em sessão solene da Câmara Municipal a partir das 16h.
Publicado 21/09/2018 16:58 | Editado 04/03/2020 16:55
Aos 82 anos Zezinho teve sua formação política apoiada no movimento sindical e sua trajetória de vida se confunde com a luta dos trabalhadores do campo, onde militou por muitos anos, e, especialmente, durante a ditadura militar.
A partir dos 17 anos de idade, Zezinho participou ativamente das Ligas Camponesas criadas por Francisco Julião, em 1955, inclusive, da invasão do Engenho Galileia, em Vitória de Santo Antão, em fevereiro de 1960. Durante a ditadura foi perseguido em Pernambuco e teve que sair do estado, passando mais de 20 anos na clandestinidade. Participou da luta no campo também no estado de Goiás, para onde se transferiu em 1960 fugindo da repressão e onde continuou atuando na resistência ao golpe de 1964. “Continuei atuando e nunca fui preso. Aprendi muita coisa nessa fase da minha vida”, lembrou Zezinho em entrevista ao jornal Folha de Pernambuco, em março de 2012.
“Eu era das Ligas Camponesas e estava lutando em Goiás quando fui convocado para participar dessa batalha ideológica que foi muito forte, encabeçada pela antiga União Soviética. Eu tinha cerca de 20 anos e ajudei na reorganização do partido”, disse ainda o comunista ao jornal, destacando o orgulho de ter marchado ao lado de líderes comunistas como João Amazonas.
De acordo com o historiador e pesquisador Augusto Buonicore (PCdoB), “em janeiro de 1964, Zezinho, então secretário do sindicato rural de São Lourenço da Mata, na Região Metropolitana do Recife, e membro do PCdoB foi agredido no comício comemorativo ao quinto aniversário da Revolução Cubana, na Praça Dantas Barreto, no centro do Recife. O agressor, Luiz Serafim dos Santos, era ligado ao grupo de Francisco Julião, líder das Ligas Camponesas, mostrando a tensão existente entre Julião e o partido, que começava carrear vários militantes das Ligas, como Amaro e Tarzã de Castro”.
Superada a ditadura militar em 1985, ele se mantém desde então um ativo militante do PCdoB, do qual é dirigente estadual. Com clareza de pensamento e compreensão dos contextos políticos do estado e do país, Zezinho é sempre ouvido atentamente por jovens e antigos militantes comunistas.
Ativismo solidário
A secretária da Mulher do Recife, Cida Pedrosa, tem viva na memória a luta dos trabalhadores rurais contra a ditadura militar e o ativismo de Zezinho à época. Advogada de formação, Cida atuava na defesa dos interesses e direitos dos camponeses e foi no desempenho dessa tarefa que conheceu o sindicalista e ativista Zezinho.
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“Conheci Zezinho na cidade de Palmares, na Mata Sul do estado. Eu estava em um ‘paradeiro’ de greve, tentando parar um caminhão de boias-frias que substituiriam os trabalhadores de usina com carteira assinada, que estavam em greve. O patrão sempre fazia isso: O trabalhador de carteira assinada, fixo, fazia greve e eles contratavam boias-frias para substituí-los. Na ocasião, eu estava tentando conscientizar os boias-frias para não irem cortar cana e um trabalhador, lógico, aperreado, pegou uma foice e disse: “Eu não vou porque tenho filho pra sustentar e ninguém me impede”. Nesse momento, Zezinho ficou na minha frente e disse: ‘Companheiro, você não está vendo que a companheira só quer o nosso bem, só quer que a gente tenha mais direitos, que a companheira está do nosso lado’. Nunca vou esquecer. Eu tinha nessa época 25 anos de idade”. Cida Pedrosa é também dirigente do PCdoB, poetisa e escritora.
Clique no link e assista a breve documentário sobre Zezinho.
Do Recife, Audicéa Rodrigues