Agenda de Bolsonaro é a de Temer ao quadrado, diz Laura Carvalho

Em artigo publicado na Folha de S.Paulo desta quinta (20), a economista Laura Carvalho mostra que, do ponto de vista econômico, o candidato à Presidência Jair Bolsonaro é não apenas a manutenção do programa neoliberal do governo Michel Temer, mas seu aprofundamento.

Bolsonaro e Temer

"Agenda de Jair Bolsonaro é a de Michel Temer ao quadrado", diz o texto, intitulado "O bobo da corte".

De acordo com a professora da USP, embora as instituições tenham se mantido refratárias às mudanças necessárias para evitar uma nova crise como a de 2008 – que agora completa 10 anos -, a necessidade de combater desigualdades para garantir estabilidade do sistema econômico ganhou centralidade no debate.

"Já as ideias pautadas pelo extremismo de mercado, como aquelas oriundas da velha escola de Chicago, saíram como as principais derrotadas da última década", afirma, lembrando que até economistas do Banco Mundial e do FMI têm tecido críticas ao modelo ultraliberal e suas consequências nefastas para a distribuição de renda, a estabilidade econômica e a democracia.

Ao se referir ao Brasil, ela destaca que as pesquisas de opinião indicam que o programa econômico Temer é visto pela maioria da população como voltado para o interesses de poucos. "A ampliação das desigualdades, o desemprego e a degradação dos serviços públicos parecem estar colaborando para uma descrença ainda maior no sistema político e econômico em vigor", analisa.

De acordo com Laura, contudo, a sociedade brasileira "ainda vê com muito bons olhos a presença do Estado na provisão de serviços públicos universais e gratuitos de saúde e educação; de um sistema de aposentadorias que atenda à massa de trabalhadores que não conseguiria poupar o suficiente para viver com dignidade na velhice; de uma rede de proteção social para os vulneráveis, e até mesmo na exploração de setores estratégicos como petróleo e energia elétrica".

Ela conclui, portanto que a forte rejeição à corrupção não levou a população a defender uma agenda ultraliberal. "Nesse contexto, a transformação de Jair Bolsonaro em um fantoche de um projeto baseado no extremismo de mercado —hoje rejeitado pelos mais renomados proponentes do liberalismo econômico mundial— pode ter aberto uma avenida para a sua derrota nas urnas", prevê.

"O superministro da economia em um eventual governo Bolsonaro, Paulo Guedes, defende publicamente a “Ponte para o Futuro” de Temer; a permanência de membros de sua equipe econômica; o fim dos reajustes automáticos de salário mínimo; a privatização de todas as empresas estatais; o abandono do sistema atual de Previdência; a reforma trabalhista; a transferência dos melhores alunos do sistema público de ensino para as escolas privadas, sepultando de vez a qualidade da educação pública no país; e até mesmo o aumento de impostos para a classe média", detalha.

A economista projeta que, por este caminho, Bolsonaro pode enfrentar grandes dificuldades para ir além do voto da elite econômica. "É improvável que o economista de Chicago consiga convencer mais de 50% do eleitorado a optar, em meio à crise, por elevar a agenda econômica de Temer ao quadrado. Felizmente, o povo não é tão bobo quanto o candidato de Guedes", encerra.