Palestinos não vão recuar diante de ameaça dos EUA

Para proteger Israel e os Estados Unidos de processos por crimes de guerra, Washington está disposto a atacar o Tribunal Penal Internacional como nunca antes

John Bolton

Apesar das táticas de intimidação da administração de Donald Trump, que incluiram recentemente a ameaça de fechamento da embaixada palestina nos Estados Unidos, representantes do Estado da Palestina garantiram que não irão ceder. Fechar a embaixada faria parte de um esforço dos EUA para bloquear o avanço dos casos contra Israel no Tribunal Penal Internacional.

Nesta segunda-feira (19), John Bolton, secretário de Segurança dos EUA, afirmou que os Estados Unidos não irão cooperar com as investigações do Tribunal Penal Internacional. Em entrevista para o jornal português Publico, o responsável palestino pelas negociações, Saeb Erekat, considerou que a medida faz parte de uma política de “punição coletiva” da administração Trump. “Estas pessoas optaram por ficar do lado errado da história, ao protegerem criminosos de guerra e destruírem a solução de dois Estados”, afirmou. “Se estavam preocupados com os tribunais, então deviam parar de incentivar crimes". 

No ano passado os Estados Unidos anunciaram que iriam fechar o gabinete da Organização de Libertação da Palestina em Washington depois de o presidente palestino, Mahmoud Abbas, ter pedido ao Tribunal Penal Internacional que investigasse e julgasse Israel por seus crimes de guerra. 

As medidas tomadas pelos Estados Unidos para pressionar a liderança palestina conduziram a relação para um ponto crítico. Numa série de golpes contra os palestinos, os Estados Unidos reconheceram Jerusalém como a capital de Israel, transferiram a sua embaixada para lá e cortaram o financiamento da agência das Nações Unidas que apoia os refugiados palestinos. Na semana passada, Washington anunciou que iria retirar 25 milhões de dólares dos apoios a hospitais em Jerusalém oriental.

É esperado que Bolton ameace impor sanções ao Tribunal Penal Internacional se continuarem as investigações contra os Estados Unidos ou Israel. Segundo uma cópia do discurso a que o Washington Post teve acesso, os Estados Unidos estariam dispostos a proibir os juízes e procuradores do TPI de entrar no país, sancionar os seus fundos no sistema financeiro dos EUA e até abrir processos judiciais contra eles.

Erekat disse que a liderança palestina iria duplicar os seus esforços e submeteria uma queixa ao TPI dentro de 48 horas, devido à decisão do Supremo Tribunal israelita de demolir a aldeia beduína Khan al-Ahmar.

Erekat disse que os Estados Unidos não fazem “parte do processo de paz”, nem têm o direito de “estar na sala” durante as negociações, classificando os funcionários dos Estados Unidos, como o embaixador em Israel David Friedman, como um “grupo de colonizadores” com uma agenda de direita israelita.

Husam Zumlot, o representante da Organização de Libertação da Palestina para os Estados Unidos, acusou a Casa Branca de tentar causar danos irreversíveis na relação entre a Palestina e os Estados Unidos e que seriam difíceis de reparar por qualquer Administração futura.