Mercado crê que ataque favorece Bolsonaro e comemora

Já que Geraldo Alckmin (PSDB) e Henrique Meirelles (MDB) não decolaram nas pesquisas de intenção de voto, o “mercado” teve que se adaptar ao novo cenário e “celebra” agora as chances de Jair Bolsonaro crescer após o episódio da facada. Analistas atribuem ao incidente o fato de o Ibovespa – principal índice acionário brasileiro – ter marcado alta de 1,76% e o dólar ter caído 0,95%, para R$ 4,104, nesta quinta (6).

“Viramos para ver as imagens na TV, a Bolsa tinha subido”, descreveu Victor Candido, economista-chefe da Guide, sobre a reação imediata do mercado à agressão contra o candidato do PSL.

Consultores e agentes financeiros avaliam que o ataque ao postulante deve ter grande espaço na mídia, ajudando a divulgar o nome de Bolsonaro, que passa agora ao papel de vítima.

“O candidato que tinha nove segundos de televisão passa a ter 24h por dia por, no mínimo, uma semana”, aponta Pablo Spyer, diretor da Mirae Asset. Para Pedro Baldi, da mesma consultoria, Bolsonaro pode colher os frutos desse ataque. “Essa violência contra ele só reforça o seu discurso”, afirmou.

Segundo o economista-chefe da Spinelli, André Perfeito, na avaliação do investidor, o cenário melhora as chances do militar na corrida eleitoral. “Quem está operando entende que o Bolsonaro pode se estabelecer frente aos outros candidatos. É uma empolgação de momento, não dá para dizer que vai continuar.”

O raciocínio das pessoas por trás “do mercado” é o de que a agressão, se fizer com que Bolsonaro cresça, reduz as “incertezas” em relação ao pleito. Os agentes financeiros comemoram, na prática, qualquer fato que afaste um pouco mais a possibilidade de que um candidato à esquerda, contrário à agenda de reformas e ajuste fiscal, vença a disputa. Mesmo que esse fato seja o fortalecimento de alguém como Bolsonaro.

A simpatia dos donos do dinheiro pelo militar veio junto com o anúncio de que o economista Paulo Guedes, um dos fundadores do Banco Pactual, comandaria o programa de governo do candidato.

A parceria fez, por exemplo, com que há algum tempo Bolsonaro deixasse de lado um tipo de nacionalismo que o colocava contra a entrega do patrimônio nacional, por exemplo.

Ciente de que o posicionamento o tornava pouco palatável para o mercado, ele decidiu aderir de corpo e alma ao programa ultraliberal, que inclui privatização, menos impostos para os que já pagam pouco, ajuste fiscal, independência do Banco Central, uma maior abertura comercial.

É a cartilha do Estado mínimo, que tanto agrada aos financistas. Afinal, cortam-se gastos sociais, mas preservam-se os pagamentos de extorsivos serviços financeiros da dívida pública; aniquilam-se os serviços públicos para abrir mercado ao setor privado; debate-se a autonomia da autoridade monetária, como forma de engessar a atuação dos políticos eleitos pelo povo.

Disposto a não desagradar os agentes financeiros, Bolsonaro tem delegado a Guedes todas as explicações sobre o que pretende fazer na economia. E, embora, a princípio, tenha se mostrado reticente com o extremado presidenciável, o mercado foge de um ambiente eleitoral favorável ao PT. No atual cenário, portanto, Bolsonaro é, sim, candidato do mercado. 

Um outro cenário projetado nesta quinta pelos investidores era o de que a facada em Bolsonaro pudesse levar a um eventual afastamento do candidato da campanha, o que poderia transferir alguma esperança a Alckmin, o preferido das finanças, mas rejeitado pelo povo até então.