De Temer para Alckmin: Negue 

Pode-se especular sobre os verdadeiros intuitos de Temer em divulgar bilhetes a Alckmin em formato de vídeos. Melhor nos apegarmos aos fatos e suas consequências.

Por Adalberto Monteiro*

Alckmin e Temer - Foto:Reuters

No vídeo Temer puxa a memória curta de Alckmin para lembrá-lo de que o PSDB capitaneou o impeachment e que um bando de tucanos de reluzente plumagem se empoleirou no seu governo.

Mentira ou verdade?

Verdade.

Em 26 de abril de 2016, Fernando Henrique Cardoso, presidente de honra do PSDB, declarou: “O PSDB tem responsabilidade política pelo que está acontecendo, porque apoiou o impeachment”. E arrematou: “Deve entrar como partido no governo, indicando nomes.”

Em 12 de maio, o presidente impostor, ao anunciar seu ministério, de cara já nomeava três ministros do PSDB para pastas de grande relevância: José Serra, Relações Exteriores; Bruno Araújo, Cidades; e Alexandre de Moraes, Justiça e Cidadania. Posteriormente, Antônio Imbassahy assumiria a pasta da secretaria de Governo, formando assim um quarteto tucano. Isso sem falar de dezenas e dezenas, talvez centenas, de nomes outros indicados por políticos da legenda.

Alckmin respondeu, afirmando que Temer é um fraco, sem autoridade nem liderança nem legitimidade. E se defendeu dizendo que na época fora contra a entrada do PSDB no governo Temer. Sua posição, argumenta, era a de que seu partido lhe prestasse apoio político e parlamentar e só. Acontece que Alexandre de Moraes fora secretário de Alckmin por duas vezes…

A hipocrisia desbragada de Alckmin parece ter ferido Temer, hoje lançado fora como bagaço de laranja.

O impeachment fraudulento foi liderado pela trinca Aécio Neves, Eduardo Cunha e Michel Temer. É público, também, que FHC e Alckmin foram linha de frente desse golpe de Estado de tipo novo.

José Serra e o atual chanceler Aloysio Nunes Ferreira são os responsáveis pela mudança na Política Externa: “De altiva e ativa”, de afirmação da soberania nacional, dos governos Lula e Dilma, passou a ser o que é hoje, de subserviência às grandes potências, em especial aos Estados Unidos da América.

Antônio Imbassahy na secretaria de Governo e as bancadas tucanas nas duas Casas do Congresso Nacional foram os timoneiros das ditas reformas ultraliberais contra os direitos trabalhistas e os direitos sociais do povo. Estiveram, também, na proa das votações que barraram na Câmara a investigação que o Supremo Tribunal Federal (STF) realizaria para apurar as graves denúncias de corrupção contra Temer.

Agora, Geraldo Alckmin, julgando que o eleitorado seja idiota, usa seu programa eleitoral de TV e Rádio para se opor ao governo Temer. Como diz o povo: para cuspir no prato no qual os tucanos se lambuzaram e seguem a comer…

Pode-se especular que a “briga” seja uma farsa, pois a cena ajudaria a distanciar o tucano do execrado Michel Temer. Pode ser…

Embora “briguem”, Temer é Alckmin, Alckmin é Temer. O programa de ambos, ultraliberal e neocolonial, como assinalou Manuela D’Ávila, é o mesmo.

Nesta contenda de amantes, muito provavelmente o tucano é quem perde mais. Empacado até aqui nas pesquisas, enfrentando a frenética concorrência do fascista Jair Bolsonaro que o PSDB ajudou a criar, e ainda os preciosos votos que lhe são subtraídos por Marina Silva, Henrique Meirelles, Amoedo e Álvaro Dias, agora, é alvejado, por um farrapo de presidente que seu Partido entronizou.

Por isto, sem esquecer de pedir desculpas à memória dos autores e intérpretes da clássica canção Negue, não resisto encerrar este texto afirmando que ela bem poderia ser o fundo musical do citado vídeo de Temer:

“Negue o seu amor o seu carinho/ Diga que você já me esqueceu/ Pise machucando com jeitinho/ Esse coração que ainda é seu.”