Macri elimina ministérios de Saúde e Trabalho na Argentina

O presidente da Argentina, Mauricio Macri, anunciou neste fim de semana uma reforma urgente do seu gabinete, para enfrentar uma nova crise econômica gerada pela forte desvalorização do peso registrada na última semana, e a possibilidade de que o governo perca definitivamente o controle da situação.

Por Victor Farinelli

Maurício Macri - Efe

O mais chamativo no anúncio presidencial foi a eliminação de pastas sociais importantes como os ministérios do Trabalho e da Saúde, numa manobra que, segundo um dos ministros sobreviventes (Nicolás Dujovne, da Fazenda) visam alcançar a meta de “deficit zero” e responder aos compromissos assumidos pelo país com o Fundo Monetário Internacional (FMI), em junho, para enfrentar a crise econômica, que nesta última semana de agosto registrou um novo salto brusco do preço do dólar e do risco país – a moeda estadunidense foi de 31,54 pesos no dia 27 aos 37,99 pesos no dia 31, chegando a valer 42,50 no dia 30, em alguns bancos.

A mudança visa também criar o ambiente para uma nova negociação com o FMI, já que o país recebeu somente um terço empréstimo outorgado em junho, ficando o restante programado para 2019, caso a Argentina cumprisse as determinações exigidas pelo organismo em termos de ajustes econômicos. A verdade é que o governo de Macri não cumpriu essas exigências, mas a situação atual – com o governo já tendo desperdiçado quase todo aquele primeiro terço dos recursos em apenas três meses – obrigou a pedir um adiantamento dos recursos mesmo assim.

Além da eliminação de ministérios, outra decisão que ganhou destaque foi a demissão dos vice-chefes de gabinete, Mario Quintana e Gustavo Lopetegui. Muito se especulou com a queda do próprio chefe de gabinete Marcos Peña, o braço direito de Macri, e embora isso não tenha acontecido, é fato que a queda dos seus dois assessores significa uma diminuição do seu poder de influência no governo.

Os ministérios eliminados são os seguintes: Ciência e Tecnologia, Cultura, Energia, Agroindústria, Saúde, Turismo, Ambiente, Trabalho e Modernização. Todos se transformarão em subsecretarias, vinculadas a outras pastas.

Por exemplo, Ciência e Tecnologia passa a ser uma secretaria dentro do Ministério de Educação. O mesmo acontece com a antiga pasta da Cultura. A Saúde será absorvida pelo Ministério de Desenvolvimento Social; Energia se acopla ao novo Ministério de Transportes e Energia; Meio Ambiente e Modernização passam a formar parte das atribuições da Chefatura de Gabinete; enquanto a Agroindústria será uma subsecretaria do Ministério da Fazenda.

O histórico Ministério de Trabalho, criado por Juan Domingo Perón em 1949 – durante seu primeiro governo – formará parte do Ministério da Produção. O mesmo destino que terá a eliminada pasta do Turismo. No caso do Ministério da Saúde, sua eliminação não é um fato inédito no país, os ditadores Pedro Eugenio Aramburu (1955-1958) e Juan Carlos Onganía (1966-1970) se atreveram a fazê-lo em seus respectivos mandatos.

Além disso, o sistema Federal de Meios, conduzido Hernán Lombardi, perderia seu poder ministerial. A carteira vinha sendo questionada pela opinião pública após a demissão de 367 trabalhadores da agência de notícias estatal Télam.

Macri tomou a decisão de reformar o gabinete após manter uma reunião de horas com outras importantes figuras do seu partido, o PRO (Proposta Republicana), como a governadora da Província de Buenos Aires, María Eugenia Vidal, o prefeito da Cidade de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, e o ministro da Fazenda Nicolás Dujovne. O encontro aconteceu no sábado, na Quinta de Olivos – residência oficial da Presidência da República.

Com a ratificação de Marcos Peña como chefe de gabinete e um ajuste atroz nos históricos ministérios, o governo oficializa sua última aposta, com uma equipe ministerial que contará com somente nove pastas. Além de Peña, também se mantiveram em seus cargos o ministro do Interior, Rogelio Frigerio, Jorge Faurie no Ministério das Relações Exteriores, Óscar Aguad na Defesa, Patricia Bullrich no de Segurança, Germán Garavano na Justiça, Guillermo Dietrich em Transportes e Energia, Dante Sica no vitaminado Ministério da Produção e Trabalho, Carolina Stanley em Desenvolvimento Social e Saúde, e Alejandro Finocchiaro em Educação, Ciência e Cultura. Como se nota, alguns nomes de ministérios eliminados foram inseridos nos nomes das pastas que os absorveram, talvez tentando atenuar a rejeição que a decisão possa causar.