"Corte de gastos foi ponto de partida do incêndio", diz João Brant

Secretário-executivo do Ministério da Cultura no segundo governo Dilma lamenta "perdas irreparáveis" no Museu Nacional.

Por Camila Salmazio e Júlia Rohden

joão brant

 O incêndio no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, ocorrido neste domingo (2), provocou perdas irreparáveis para a cultura. Essa é a avaliação de João Brant, que foi secretário-executivo do Ministério da Cultura no segundo governo de Dilma Rousseff.

Em entrevista à Rádio Brasil de Fato, ele explica ainda que o corte de gastos públicos dificulta a manutenção adequada de aparelhos culturais e pode ser apontado como um dos grandes fatores para tragédias como esta do Museu Nacional.

Confira trechos da entrevista:

Brasil de Fato – Como você avalia a diminuição dos investimentos diante desta perda histórica?

João Brant – Primeiro que a tragédia é horrenda, as imagens falam por si e elas mostram uma perda completamente irreparável. Não adianta a gente falar em reconstrução sem fazer o luto do que foi perdido ali. Nós estamos falando de menos de 100 mil reais recebidos este ano. Este valor que é repassado para os museus é um valor ínfimo. É uma realidade de corte de gastos, que produz uma dificuldade de se manter contratos mínimos de manutenção. É claro que existe uma série de outras responsabilidades que precisam ser apuradas, nós não podemos falar somente em corte de gastos, mas não é possível ter um ponto de partida que não seja este corte. Os cabeças de planilha que acham que cortando o gasto público o Brasil recupera a capacidade econômica deixam de reconhecer, justamente, todos os efeitos negativos imediatos e os de longo prazo deste corte de recurso. Nós perdemos acervos de uma forma que é completamente irrecuperável. Quando a gente fala de corte de gasto, por exemplo, todos os museus têm um mínimo de manutenção que se você corta não existe de onde tirar.

Somente dois programas de governo dos presidenciáveis apontam como prioridade museus: o do PT e o da Rede. Como avalia esta questão?

Olha, sem surpresa, na verdade. De fato, a relação que os setores mais conservadores têm com a cultura é uma relação de pouco investimento. O Temer quis derrubar o Ministério da Cultura. No programa do PT, do Lula candidato, aparece toda a defesa da recuperação da capacidade dos museus. Nós temos gestores empenhados em trabalhar [nas instituições culturais], mas sem recursos financeiros para isso.