Alexandre Santini: Incêndio no Museu Nacional é metáfora do Brasil

A destruição do Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro pelas chamas de um incêndio ocorrido neste domingo (2) é um símbolo do que está acontecendo no Brasil, declarou Alexandre Santini, diretor do Teatro Popular Oscar Niemeyer em Niterói. “É uma metáfora da destruição do Brasil e não é só na área da cultura”, declarou ao Portal Vermelho.

Por Railídia Carvalho

Museu nacional incêndio - Reprodução

“Após o golpe de 2016 (que levou Michel Temer à presidência), quando tentaram extinguir o Ministério da Cultura, a reação da cultura foi marcante. O incêndio no museu é um recado simbólico que precisamos renascer dessas cinzas construindo um novo projeto para o Brasil porque o projeto de hoje é de destruição”.

Santini lembrou que na gestão do ex-presidente Lula e do ministro Gilberto Gil a política de museu do Brasil virou referência. “É assustador ver essa situação de hoje para um país que avançou tanto. Criou o Sistema Brasileiro de Museus, criou cursos de museologia, virou referência mundial”.

Ele criticou a fala do atual ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, que indiretamente atribuiu a responsabilidade à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “O ministério da cultura é o responsável institucional. Além de tentar politizar atribuindo a governos anteriores, ele coloca como se a responsabilidade não fosse dele”.

Orçamentos precários

Gestor cultural, ator e dramaturgo, Santini conversou com o Vermelho um pouco antes de participar de ato nesta segunda-feira (3) na Cinelândia para denunciar o corte de recursos para o museu nos últimos anos.

“A notícia abalou profundamente a todos nós. Nem consegui dormir. Nem sou da área de museu mas dirijo um equipamento de cultura e sei que todos nós lidamos um pouco com os limites da responsabilidade, as condições nessa área são precárias”, enfatizou.

Outras tragédias

De acordo com informações da Ong Contas Abertas, divulgada pelo G1, desde 2015 foram gastos R$ 5.936 nas áreas de proteção, segurança e socorro no Museu Nacional. De um orçamento de 1 milhão em 2011 o equipamento recebeu 98 mil até agosto deste ano.

“Estamos sempre apertados, no limite para conseguir desenvolver o trabalho mas o corte no repasse de verbas não é um problema isolado, não é somente do Museu Nacional. E essa diminuição do gasto público pode fazer com que tragédias como essa se tornem rotina no Brasil”, alertou.

Museu Nacional, um programa popular

Ao lado da tragédia política, cultural e científica o museu também é um perda afetiva para a população do Rio de Janeiro, explicou Santini. A localização em um bairro ocupado por classes populares e o acesso próximo à estação de trem fazia da visita ao Museu um programa popular.

“Não tem criança na capital ou região metropolitana que não tenha ido ao museu levada pelos pais. O incêndio deixou todo mundo abalado”.