Candidatos à direita propõem "mais do mesmo" ante economia estagnada

O discreto crescimento de 0,2% no Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre mostra que o país enfrenta forte estagnação da economia. E, sem mudança na política econômica, as dificuldades persistirão. A avaliação é do economista da PUC-SP, Antonio Corrêa de Lacerda. A pouco mais de um mês das eleições, ele aponta que os seis candidatos mais à direita do espectro político não apresentam programas alternativos ao atual, que não deu certo. “São mais do mesmo”, diz.

Por Joana Rozowykwiat

Antonio Correa de Lacerda

Os dados do IBGE, anunciados nesta sexta (31), indicam que a soma das riquezas do país praticamente não saiu do lugar no último trimestre. Apontam que a indústria caiu 0,6%, e a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), indicador de investimentos, recuou 1,8%. O consumo das famílias subiu mísero 0,1% e o consumo do governo, 0,5%.

“Configura uma estagnação forte e mostra que a economia continua sem vetores para garantir uma retomada. Você tem consumo das famílias e do governo retraídos. E os investimentos, no lado privado, as empresas estão com ociosidade, e o custo do crédito está muito caro; no lado do governo, com as restrições fiscais que existem, o Executivo está sem um instrumento da política anticíclica que seria recomendável nesse momento”, analisou Lacerda.

De acordo com ele, todas as restrições que estão presentes na economia hoje vão continuar ocorrendo em 2019, caso não haja uma mudança no rumo da política econômica. “E a consequência disso tem sido o aprofundamento do desemprego”.

Na última quina (30), O IBGE divulgou nova pesquisa sobre o desemprego no país, que expões uma taxa de 12, 3%. “Estatisticamente, o desemprego caiu. Mas, na verdade, é uma visão equivocada do processo, porque aumentou muito o desalento, quer dizer, as pessoas desistiram de procurar emprego porque não veem chances de conseguir uma vaga”, ressalta o economista.

O novo levantamento mostra que 4,818 milhões de pessoas desistiram de procurar trabalho, no trimestre encerrado em julho. Lacerda destaca que o desemprego alto também é um fator que restringe a retomada do crescimento. “Cada desempregado a mais é um consumidor a menos”, adverte.

Quanto à derrocada da indústria, ele resgata que o setor vive uma longa fase de estagnação, que já dura pelo menos 10 anos. Segundo o economista, isso se deve tanto a questões conjunturais, como crédito caro, o câmbio oscilante e a ausência de uma política industrial, como ao próprio processo de desindustrialização que o país vive, decorrente da falta de competitividade. “Não há condições favoráveis ao crescimento industrial”, diz.

O professor da PUC-SP sublinha que, para um país como Brasil, o crescimento da economia como um todo é uma condição necessária para a melhora da qualidade de vida, que seria o desenvolvimento.

“Mas já vamos para o quarto ano com ou recessão, como em 2015 e 2016, ou com baixo crescimento, como em 2017 e 2018. No melhor dos casos, a economia deve crescer apenas 1% esse ano, repetindo o desempenho do não passado. Isso não viabiliza o aumento do PIB per capta. É um dado de restrição muito forte no crescimento da economia”, lamenta.

Ajuste desequilibrado

A sua avaliação é a de que houve, por parte do governo Michel Temer, uma aposta equivocada na retomada da confiança, que seria dada pela realização do ajuste fiscal. “Mas o ajuste adotado pole governo é desequilibrado, porque não contém as despesas possíveis de serem cortadas, como benefícios ao Judiciário, gastos desnecessários, e contrai a melhor parte da despesa, que é o investimento público”, critica.

Por outro lado, Lacerda completa, a gestão também não investe em políticas que poderiam dar ao setor privado condições para desempenhar esse papel.

“Os consumidores, com desemprego, restrição da renda e muita gente negativada junto às instituições de crédito, não conseguem acelerar esse processo. E não há investimento. Isso cria uma situação de estagnação na economia, em que a política econômica não é criativa ou propositiva o suficiente para sair desse marasmo”.

Direita quer manter caminho fracassado

Para Lacerda, o presidente que assumir em 2019, entre outras coisas, precisa promover uma “mudança radical” no conjunto das políticas macroeconômicas. “As políticas fiscal, monetária e cambial hoje atendem muito mais ao interesse do curso prazo, que a uma visão de desenvolvimento de longo prazo”, condena.

Ao analisar o cenário eleitoral, ele aponta que, apesar de a atual receita não ter dado frutos, ao menos seis candidatos à Presidência defendem uma manutenção dos rumos apontados por Temer.

“O mais curioso é que há pelo menos seis candidatos que apresentam hoje mais do mesmo. Se você pegar os programas de governo de Geraldo Alckmin, Álvaro Dias, Jair Bolsonaro, Marina Silva, Henrique Meireles e João Amoêdo e o perfil dos economistas que os suportam, há uma repetição da política econômica que vem sendo adotada”, compara. Entre as medidas defendidas, estão austeridade fiscal, privatizações e abertura comercial.

“Basicamente, quem vem apresentando uma mudança propositiva está no lado da centro-esquerda, que passa por Guilherme Boulos, Ciro Gomes e Fernando Haddad. São esses que estão apresentando alguma proposta de mudança, uma ruptura com essa política econômica de curto prazo que não tem promovido a saída da crise. Os demais, pelo perfil de seus assessores políticos, são mais do mesmo”, encerra.