Decisão do STF fragiliza terceirizado que busca reparação na Justiça

Segundo o advogado Magnus Farkatt, assessor jurídico da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) o efeito imediato da terceirização da atividade-fim será nos tribunais das instâncias inferiores. Nesta quinta-feira (30) o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu por 7 votos a 4 que a terceirização, antes restrita apenas à atividade-meio, pode ser estendida para qualquer etapa da produção.

Por Railídia Carvalho

Carmem Lúcia, ministra do STF

“Derrota histórica dos trabalhadores. Venceu mais uma reivindicação antiga do empresariado”, resumiu Magnus ao Portal Vermelho. Segundo ele, após a decisão do Supremo a tendência é de que as instâncias inferiores cumpram a orientação do STF. Ou seja, um Tribunal Regional do Trabalho pode considerar legal a terceirização em atividade-fim e dar ganho de causa às empresas.

"As instancias inferiores só estarão obrigadas a decidir em conformidade com a posição do Supremo depois que o acórdao for publicado, entretanto, elas poderão aplicar desde já este entendimento se acharem conveniente", esclareceu Magnus.

Foi encerrado nesta nesta quinta de ações o julgamento de ações de autoria das empresas Cenibra e Associação Brasileira do Agronegócio. O STF decidiu pela inconstitucionalidade da Súmula 331 do Tribunal Superior do Trabalho (TST). As referidas empresas, que contrataram terceirizados para a atividade fim, contestavam a súmula, instrumento legal que proibia a terceirização nesta etapa da produção.

Licença para violar direitos

“Havia um possibilidade de reverter na justiça os efeitos da terceirização e agora a tendência é que a justiça decida contra o trabalhador com base na decisão do Supremo”, afirmou Marcelino da Rocha, presidente da Federação Interestadual de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil (Fitmetal).

Ele informou que no setor metalúrgico a terceirização tem sido amplamente aplicada, especialmente nas pequenas empresas. “São empregadores que não depositam fundo de garantia, recolhem INSS mas não transferem para a Previdência. Se combinarmos com o esvaziamento do papel da justiça do trabalho pela reforma trabalhista, a garantia legal do STF à terceirização sem limites tira qualquer chance do trabalhador lesado conseguir reparação”.

Terceirzação ilícita

Magnus lembrou que a decisão do STF traz ressalvas: “As decisões que seguem a súmula 331 e que tiveram recursos esgotados não podem ser alteradas pela decisão atual. A terceirização também precisa ser lícita. Se for comprovado que há a tentativa de burlar a lei ela não se enquadra na decisão do STF”.

“Um hospital que contrata um auxiliar de enfermagem através de cooperativa e este auxiliar está submetido à orientação de um enfermeiro do hospital significa que ele tem vínculo com o hospital. A terceirização é admitida desde que não estejam presentes situações como a deste hospital, que caracteriza vínculo empregatício, e tenta burlar a legislação”, explicou Magnus.

STF usa discurso dos defensores da reforma trabalhista

A geração de empregos foi argumento usado pelos ministros que votaram a favor da terceirização da atividade-fim. Magnus não vê consistência na justificativa. ”No período de 2003 até 2014 tivemos crescimento progressivo de oferta de empregos. A maior parte deles, cerca de 70% deles foram criados em pleno vigor da súmula 331. Não é a permissão da terceirização da atividade-fim que vai promover a criação de emprego e sim ações de política econômica”, analisou Magnus.

Na opinião dele, a reversão dessa decisão dependerá muito mais de mudança na composição do Supremo. “Mesmo que seja aprovada nova lei proibindo a terceirização na atividade-fim é possível que essa mesma composição do STF rejeite. Predomina no Supremo uma concepção neoliberal da economia. A maior parte dos ministros é portadora dessa ideologia onde se retira o papel do Estado das relações de trabalho e deixa que o mercado regule tudo”.

Votaram a favor da terceirização da atividade-fim Cármem Lúcia, Celso de Melo, Gilmar Mendes, Luiz Fux, Luis Roberto Barroso, Alexandre de Moraes e Dias Toffoli. A terceirização foi rechaçada pelos ministros Edson Fachin, Ricardo Lewandovski, Rosa Weber e Marco Aurélio.

Para Marcelino, o judiciário tem exercido papel estratégico nas derrotas impostas à classe trabalhadora. “A visão tucana, neoliberal ignora as estatísticas sobre acidente de trabalho, salário precário, condições precárias de trabalho. Essa é a modernização deles que pode ser comprovada agora depois da reforma trabalhista. Prometeram e empregos e o que vivemos hoje é recorde no desemprego, aumento de trabalhos precários e milhões no desalento ou endividados”.