Leci, o coração que bate no ritmo do samba

Em entrevista para o Portal Vermelho, a sambista e compositora carioca Leci Brandão recordou a estreia na carreira artística a partir da gravação de um compacto e em seguida de um LP. “Foi uma gravadora daqui (de São Paulo) que decidiu gravar o meu primeiro compacto e o meu primeiro LP”

Por Railídia Carvalho

Leci Brandão - Ilustração por Tainan Rocha

Leci contou que quando estava no Rio de Janeiro, no final do ano de 2016, estava muito quente; ela disse: “eu preciso voltar pra São Paulo. Enquanto não cheguei aqui não fiquei boa”, confessou a deputada estadual pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB) de São Paulo.

O primeiro e decisivo contato de Leci com São Paulo foi nos anos 70, através do produtor Marcus Pereira, que acabara de criar, na capital paulista, uma gravadora independente voltada para música popular e ritmos brasileiros.

Na primeira metade da década, Leci havia dito ao jornalista Sérgio Cabral, um dos fundadores do jornal Pasquim e muito próximo aos artistas da música popular, que não tinha interesse em gravar e que “meu negócio é ficar cantando samba na escola”.

Um pouco depois foi convidada para os sambas do teatro Opinião, quando foi assistida pelo Marcus Pereira. “E o Marcus na segunda-feira da semana seguinte levou o contrato pra gente assinar”, lembrou.

A história musical de Leci Brandão começou a ganhar as lojas e os programas de rádio. Na televisão ela foi apresentada em 1974 através do programa Ensaio, criado e dirigido pelo jornalista e produtor Fernando Faro, na TV Cultura de São Paulo. O programa é uma espécie de memória em áudio e vídeo da produção musical brasileira desde os anos 60 até os dias de hoje.

Leci participou do programa como convidada do reverenciado sambista mangueirense Cartola, que a apresentou como uma promissora cantora e compositora de sambas. A novata fazia parte da ala de compositores da Mangueira desde 72, sendo a primeira mulher a quebrar a hegemonia dos homens naquele seleto time de artistas do povo.

“Nessa época eles (a gravadora Marcus Pereira) também tinham contratado Cartola. Então nós lançamos os dois LPs simultaneamente o que resultou em uma entrevista no programa Ensaio.. E na verdade é o primeiro DVD em preto e branco que a gente faz”, contou Leci. A gravadora Trama transformou essa entrevista do Ensaio em um DVD que mostra uma Leci, nas palavras da própria sambista, “novinha, que cantava com um vozinha bem aguda”.

As circunstâncias da estreia de Leci em disco ainda estão frescas em sua memória. Parece que, naquela época, sinalizavam para um vínculo muito mais profundo entre a cantora e a cidade, ligação que se fortaleceria 40 anos depois, quando Leci é reconhecida pelo povo de São Paulo, não só como artista, mas como sua representante no parlamento.

Carioca de nascimento e paulistana de coração, Leci reconhece que em São Paulo tem “uma elite nervosa” mas também produz relações afetivas profundas. “Aqui depois que conhece fica amigo. Tem essa coisa, preserva. Não e aquela coisa em passant encontrou na praia. Você marca pra almoçar, pra tomar um chope, a fazer uma comida na casa da pessoa. Nada na minha vida vai se comparar ao carinho, ao reconhecimento. As pessoas em são Paulo não tem vergonha de dizer que amam você”, elogiou Leci.