Greve de fome:Ativista passa mal e é socorrida por médicos em Brasília

No momento em que era realizada uma mobilização em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília, organizada pela Frente Brasil Popular, na noite desta terça-feira (21), uma das ativistas do grupo que se mantém em greve de fome desde 31 de julho, Zonália Santos, teve complicações pelo estado debilitado de saúde e precisou de atendimento de urgência pelos paramédicos do SAMU.

grevista de fome passa mal e socorrida por samu 21 de agosto de 2018 - Adilvane Spezia/ MPA E Rede Soberania

Zonélia é a ativista mais velha do grupo de sete brasileiros e brasileiras que permanecem em greve de fome para chamar a atenção e cobrar da Corte Suprema que cumpra a determinação do Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) de que o Estado Brasileiro garanta a Lula os direitos políticos e a participação nas eleições presidenciais deste ano.

Os grevistas cobram também que o STF paute as Ações Declaratórias de Constitucionalidade (ADCs) 43 e 44, que tratam da prisão após condenação em segunda instância, como é o caso do ex-presidente Lula, mantido preso político na sede da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba (PR), desde o dia 7 de abril.

A manifestante Zonélia, 48 anos, assentada da reforma agrária em Rondônia, precisou ser atendida pelos médicos Ronald Wolff e Maria da Paz, que integram a Rede de Médicos e Médicas Populares. Ela foi levada pela ambulância para receber atendimento médico no Hospital Regional Asa Norte.

Segundo Ronald Wolff, a grevista, conhecida como a avó-coragem, apresentou uma hipotensão postural bastante acentuada, foi acometida por uma síncope e perdeu os sentidos. “Colocamos ela no chão, elevamos as pernas e passamos a fazer manobras para que ela recuperasse os sentidos”, contou.

Com as manobras, ela foi retomando os sentidos até que chegasse o atendimento da ambulância. “Quando chegaram ela já havia acordado, conseguimos pegar um acesso venoso, colocar soro e ela reagiu relativamente bem, então foi conduzida de ambulância para o hospital”.

Após receber atendimento médico, Zonália retornou ao Centro Cultural de Brasil, onde permanece em repouso e segue sob observação da equipe de saúde da Greve de Fome.

Revolta

A situação de risco à vida dos sete ativistas tem sido alertada pelos médicos que acompanham a greve de fome, mas eles continuam irredutíveis e prometem ir até às últimas consequências até que o STF se sensibilize com as reivindicações.

Líderes de movimentos que apoiam o protesto expressaram repúdio à insensibilidade de ministros do Supremo. Maria Kazé, dirigente do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) culpa o STF pela situação.

“O Supremo não demonstrou até agora um mínimo sinal de sensibilidade para com os companheiros e companheiras que estão há 22 dias esperando dolorosamente para serem recebidos por um ministro, por uma ministra”.

Para a líder camponesa, os ministros têm renegado constantemente a obrigação de guardar, respeitar e defender a Constituição Federal. Até o momento, o único ministro que recebeu pessoalmente os grevistas foi Ricardo Lewandowski. A presidente do Supremo, ministra Cármen Lúcia, conversou com apenas um dos sete militantes, comprometendo-se a atender o grupo completo, mas ainda não cumpriu com a agenda prometida.

“Sacrifício que vale a pena”

Os sete participantes completam 23 dias de greve de fome nesta quarta-feira (22). Alguns já perderam dez quilos e todos apresentam problemas como alteração na glicemia e queda na pressão arterial e temperatura corporal. Mas todos eles reforçam que a greve só acaba quando a ministra Carmen Lúcia coloque em votação as ADC´s. Essas ações podem levar o ex-presidente Lula à liberdade, mesmo após condenação em segunda instância.

Os grevistas

Frei Sérgio Görgen, 62 anos, gaúcho, dirigente do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), diz que os ministros do STF precisam voltar a ter algum tipo de conexão com a população brasileira.

Rafaela Alves se manifesta por meio de versos: “A situação está extrema / Para onde vai a nação? / Com epidemias, desemprego / Sem saúde, educação / Políticas Sociais extintas / Resta abandono destruição. / Contra negros, jovens, mulheres / A violência só alimenta / Os preços desenfreados / O povo já não aguenta / A mídia segue mentindo / Nossas redes a enfrenta”.

Completando 68 anos em meio à Greve de Fome, Gegê Gonzaga, paraibano radicado em São Paulo, representa a Central dos Movimentos Populares (CMP), tem uma vida inteira dedicada à luta social. Segundo ele, “a resposta precisa começar de baixo pra cima e não de cima para baixo, somente assim o pobre, o trabalhador, o negro, o indígena, o camponês vão ter espaço de representação”.

Já a avó-coragem, Zonália Santos, 48 anos, assentada da reforma agrária em Rondônia, não hesitou em deixar a rotina junto dos filhos e netos para agregar a força e a garra da mulher sem-terra na greve de fome. “Nós não estamos aqui nos manifestando apenas pelo direito do presidente Lula em ter um julgamento justo, nós estamos manifestando nossa contrariedade com a volta da fome, da miséria da exploração”.

O pernambucano Jaime Amorim, 58 anos, dirigente do MST e da Via Campesina, diz que o ato reafirma sua opção política e coloca em destaque denúncias que têm sido ignoradas pelo Poder Judiciário, que tem se mostrado subserviente ao grande capital.

“Passar fome nesta greve é uma opção militante, colocamos nossas vidas aqui para que se possa evitar que milhões de brasileiros e brasileiras passem fome por não ter comida na mesa, passem fome por não ter opção”, afirmou.

Também militante do MST, Vilmar Pacífico, 60 anos, veio do Paraná, falou sobre a indignação de um povo que enfrenta diariamente a pressão e a agressão por parte das forças do estado. “A justiça deveria servir ao povo, deveria ser o lugar onde pudéssemos nos socorrer, mas a verdade que temos observado a cada dia é que ela também está se prestando ao serviço do capital e virando as costas para aqueles a quem deveria cuidar”.

Já Leonardo Soares, 22 anos, do Levante Popular da Juventude, que aderiu à luta em 6 de agosto, diz que “essa greve de fome tem a função de fomentar a participação e a organização do povo”. Segundo ele, a luta que os ativistas empreendem é por uma causa justa, que aglutina o povo e propõe a organização como ferramenta principal na disputa que se configura no atual processo.