Samira de Castro: É hora de enfrentar o racismo estrutural na mídia

“Falar de racismo no Brasil é mexer em estruturas, instituições e comportamentos. Esse é exatamente o papel do Jornalismo e dos jornalistas. É entender porque a Lei 10.639, que inclui a história e a cultura afro-brasileira nos currículos escolares, mesmo completando 15 anos em 2018, ainda não é totalmente cumprida. É saber o que são políticas afirmativas e não reduzi-las às cotas para negros e indígenas em universidades e concursos”.

Por Samira de Castro*

Sindjorce: Instituições e movimentos sociais viabilizam curso

No País em que são negras sete em cada dez pessoas assassinadas, em vez de combater, a mídia tem sido palco da reprodução de estereótipos de gênero, raça e etnia, invisibilizando populações historicamente discriminadas. Assim, a esmagadora maioria dos veículos de comunicação atua como agente para a manutenção de crenças, valores, hábitos, comportamentos e atitudes machistas, racistas e etnocêntricas, promotores de sofrimento e de profundas desigualdades na sociedade brasileira.

Sim, estamos falando do Brasil. De um país que, em pleno Século XXI, falar de racismo é considerado "mimimi". Há pouco tempo, o então âncora de um telejornal foi filmado, dizendo ser "coisa de preto" a interrupção de uma gravação por buzinas. Onde o então diretor-presidente da Empresa Brasil de Comunicação fez comentários debochados sobre o desabafo de uma atriz com receio de ver o filho negro ser discriminado.

Falar de racismo no Brasil é mexer em estruturas, instituições e comportamentos. Esse é exatamente o papel do Jornalismo e dos jornalistas. É entender porque a Lei 10.639, que inclui a história e a cultura afro-brasileira nos currículos escolares, mesmo completando 15 anos em 2018, ainda não é totalmente cumprida. É saber o que são políticas afirmativas e não reduzi-las às cotas para negros e indígenas em universidades e concursos.

É nesse país, em que o comercial de uma família negra no Dia dos Pais gera comentários sobre o inexistente "racismo reverso", que precisamos qualificar a comunicação e o Jornalismo. Por isso, o Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce) assume o desafio de repensar a nossa mídia, ao realizar o Curso Abdias Nascimento – Comunicação e Igualdade Racial, formação que leva o nome do jornalista, ator, político e militante negro (1914-2011), ícone da luta contra o racismo e destaque da consciência negra no Brasil.

Fazemos isso pois o papel de uma entidade sindical é organizar, informar e formar seus representados. E por acreditar que o Jornalismo tem uma função social, o Sindjorce investe na qualificação da categoria, tendo como norte a defesa dos Direitos Humanos. A entidade, que completou 65, visa, portanto, contribuir para a construção de um Jornalismo plural, ético e alinhado à meta de fortalecimento da democracia no Brasil.


*Samira de Castro é presidente do sindicato dos jornalistas do Ceará (Sindjorce)

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