Haddad: 'Alckmin não é o que parece, seu partido arquitetou o impeachment'

O ex-prefeito Fernando Haddad, candidato a vice-presidente da República na chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo PT, disse em sabatina nesta segunda-feira (13) que a agenda do candidato tucano Geraldo Alckmin “é a manutenção da atual política econômica”.

Haddad na coletiva - Clécio Almeida

“Alckmin representa o projeto Temer. Ele já disse que vai manter todas as contrarreformas feitas pelo Temer”, afirmou, na abertura do ciclo “O Brasil visto de Baixo”, organizado pela Casa do Baixo Augusta e por Catraca Livre.

A afirmação foi em resposta à pergunta sobre como votaria no segundo turno se as opções fossem Jair Bolsonaro (PSL) e o próprio Alckmin. Porém, Haddad considera esse cenário inviável. “Para Alckmin subir, Bolsonaro tem que cair.”

“Eu já disse que seria um pesadelo ter que fazer essa escolha. Alckmin não é o que parece: ele faz parte de um partido que arquitetou o impeachment e deu margem a uma crise institucional sem precedentes no país.”

Segundo a avaliação do ex-prefeito, se tiver a candidatura confirmada Lula pode ser eleito no primeiro turno. “Estamos falando de um dos maiores líderes mundiais.” Ele também afirmou que a situação vivida por Lula, preso desde 7 de abril, não pode ser considerada normal sob nenhum aspecto. “Não podemos naturalizar essa situação.”

Questionado se acredita de fato que Lula será o candidato do PT, ele brincou: “Espero que no dia 7 de outubro tenhamos uma chapa na qual eu nem precise figurar.”

Sobre o como governar sob o chamado presidencialismo de coalizão, ele afirmou que uma ideia que poderia ser objeto de reflexão seria mudar a data da eleição para o Congresso Nacional, fazendo com que ela seja realizasse paralelamente ao segundo turno, para que o eleitor possa escolher parlamentares já tendo noção de quem governará o país.

Para Haddad, a escolha de deputados e senadores poderia ainda ser realizada depois de o presidente da República ser eleito. Segundo ele, essas soluções poderiam “organizar” o processo político.

Teto de gastos

Na sabatina, o petista comentou as consequências da Emenda Constitucional 95, que cria o teto de gastos. “Estamos desconstruindo as politicas públicas. Já imaginou congelar o país por 20 anos? É possível compatibilizar retomada de investimento público com responsabilidade fiscal. Mas esse teto de gastos é inexequível. É uma tolice que só o Brasil aprovou no mundo. Nem a Grécia fez isso. Ele lembrou que a mortalidade infantil voltou a crescer no país em 2017, depois de 26 anos de queda. Porém, o ex-prefeito reconhece que “tem espaço para se aumentar a eficiência do serviço público”.

Falou também sobre cultura, meios de comunicação e as dificuldades vividas por pesquisadores e pós-graduandos devido aos cortes no financiamento do setor de pesquisas. “No nosso governo, sentávamos com os reitores na Presidência da República, para discutir questões de orçamento para ciência e tecnologia”, lembro.

Haddad comentou a questão da TV pública e mencionou a TV Cultura, controlada ideologicamente pelo governo do Estado. “Na TV pública, o governo não pode se imiscuir no seu funcionamento. Você fica com medo de ir ao Roda Viva porque não sabe se sai vivo de lá”, brincou. “Estamos num país onde (os meios de comunicação tradicionais) quiseram tirar El País e BBC do ar, e ainda nos chamam de censores.”

O candidato a vice de Lula afirmou que, se eleita, a chapa do PT pretende fazer um programa nos moldes do Luz para Todos para democratizar o acesso à banda larga e aos meios digitais no país.

Segundo ele, a reforma trabalhista aprovada no governo Michel Temer “é um fiasco”, induz à “pejotização” e, consequentemente, o Estado arrecada menos impostos. Haddad também afirmou que uma das propostas para um próximo governo petista seria que os bancos sejam penalizados por cobrar altas taxas de juros. “Quanto mais juros cobrar, vai pagar mais imposto. Vai doer no bolso do banqueiro”, disse.

Sobre a identidade de parte considerável do eleitorado com Bolsonaro e propostas como permitir o uso de armas pelo cidadão comum, Haddad defendeu que as pessoas sejam esclarecidas. “Ele (Bolsonaro) tem um discurso mais fácil para algumas pessoas. Isso precisa ser enfrentado com mais debate e levar ao conhecimento da população o que acontece numa situação em que as pessoas são armadas.”

O ex-prefeito destacou a necessidade de o país voltar a desenvolver políticas para as mulheres e resgatar essa agenda, perdida após o impeachment de Dilma Rousseff. “O atual governo é o que mais voltou as costas para essa pauta.”

Sobre cultura, disse que a Lei Rouanet foi benéfica, mas depois as pessoas começaram a explorar as “brechas jurídicas”. “Tem sentido a lei financiar um show que custa mil reais o ingresso? Sou a favor de lei de fomento, mas a lei Rouanet está aberta demais.”

Ao comentar a crise da Venezuela, defendeu que o papel do Brasil é manter distanciamento e tentar organizar a saída da crise, sem tomar posição abertamente a favor de um ou outro lado. “O papel do Brasil é o que Lula fazia muito bem: ele organizava o debate como amigo da Venezuela, da Colômbia, da Bolívia.