A luta de Margarida Alves continua viva após 35 anos do assassinato

O dia 12 de agosto entrou para a história do Brasil como um importante marco da resistência feminina no movimento sindical. Nesse dia, em 1983, era assassinada Maria Margarida Alves, então presidenta do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, Paraíba.

margarida maria alves, cartaz da luta eu não fujo, liderança rural assassinada em 1983 - reprodução

“Esse crime político abalou o movimento sindical , principalmente as mulheres, mas a força de Margarida tomou conta de todas nós e por ela foi criada a Marcha das Margaridas para elevar a voz das trabalhadoras rurais contra a injustiça e a violência às mulheres”, diz Celina Arêas, secretária da Mulher Trabalhadora da CTB.

O motivo do assassinato é evidenciado pela postura da líder sindical em defesa dos direitos das trabalhadoras e trabalhadores. À frente do sindicato, Margarida moveu mais de 70 ações, por desrespeito às leis trabalhistas, contra as usinas de cana de açúcar da região. Um de seus principais lemas era: “É melhor morrer na luta do que morrer de fome”.

“Os latifundiários já desrespeitam dirigentes sindicais homens, imagine então uma mulher corajosa, que foi morta aos 50 anos na sua cidade natal, Alagoa Grande?”, questiona Aires Nascimento, secretária adjunta da Mulher Trabalhadora da CTB.

O proprietário da Usina Tanques, na região do sindicato presidido por ela, era o líder do chamado Grupo da Várzea, que vivia em conflito com os sindicalistaas. O seu genro, então gerente da usina, foi acusado de ser o mandante do crime.

A Marcha das Margaridas foi criada em 2000 em homenagem a ela, que se transformou num símbolo da luta por direitos iguais às mulheres do campo. Em 2019, acontece a 6ª Marcha das Margaridas, contra a violência e o desrespeito às mulheres.

“Agosto é um mês simbólico, de afirmação da nossa luta inspirada na vida militante de Margarida Alves. O caminhar de Margarida nos impulsiona a continuarmos mobilizadas, em resistência e com muita força para construirmos nossa 6ª edição da Marcha”, afirma Mazé Morais, secretária de Mulheres da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), entidade responsável pela realização da Marcha das Margaridas.

"Tiraram sua vida, mas deixaram espalhadas sementes de Margaridas pelo Brasil que têm certeza que vale a pena lutar pelos direitos dos povos do meio rural”, complementa Mazé. Inclusive a Contag produziu o documentário "Nos caminhos de Margarida" para registrar a história de resistência das mulheres do campo. 

“A gente não tem como esquecer (…) É uma data dolorosa, lembro da amiga, da líder sindical, da mulher que lutou em prol dos direitos das trabalhadoras(es) rurais”, diz à Contag, Maria da Soledade, sindicalista rural e amiga de Margarida.

Para Aires, “somos milhares de Margaridas marcando presença na luta por um mundo mais justo e igual. Que as mulheres possam viver sem medo e sejam respeitadas como sujeitas das nossas vidas. Liberdade, respeito e direitos iguais, são nossas bandeiras ”.

Assista "Nos caminhos de Margarida", da Contag