Com Haddad e Manuela, Lula investe na juventude órfã na política

 "São duas pessoas que deixaram de lado o que poderiam ter sozinhas para se atirarem numa empreitada difícil e perigosa".

Por Fernando Brito, do Tijolaço

Manuela e Haddad - Foto: Clécio de Almeida/Portal Vermelho

Já escrevi sobre o fato de que Geraldo Alckmin e Jair Bolsonaro, na composição de suas chapas presidenciais, investiram sobre o mesmo espaço de uma direita que, no Brasil, radicalizou-se.

O movimento de Lula, ao indicar Fernando Haddad como seu vice provisório e apontar Manuela D’Ávila, ex-candidata presidencial do PCdoB, como “vice de fato”, foi feito em sentido inverso.

Abriu-se para um campo que está, nesta eleição, virtualmente abandonado: a juventude.

Haddad e Manuela, na idade e na imagem, falam a este setor imenso da sociedade com um rosto que a direita não tem e quebram a estética do “político convencional”.

Pode-se objetar que ambos não têm, “a cara do povão”.

Mas é igualmente verdade que esta cara é a cara de Lula, como é dele a componente nordestina, essencial.

Ambos terão o desafio de não a contradizer.

Nem eu e nem ninguém podemos, antecipadamente, dizer se a montagem da chapa foi a ideal, a não ser para dizer que a ideal passaria pela atração de Ciro Gomes, o que poderá vir mais à frente, já em condições menos destacadas para o candidato do PDT.

Mas olhando do potencial de empatia dos candidatos, não há dúvidas de que foi muito boa.

Nos cenários de pesquisa “sem Lula”, Manuela chega a marcar 4 pontos entre os jovens de até 24 anos e 3% entre os de 25 até 34 anos.

Afinal, também não deixa de ser um castigo para quem tanto falou do “novo” na política.

Somem as idades da dupla Haddad-Manuela e sobram quatro décadas até as duplas Alckmin/Ana Amélia; Bolsonaro/Mourão, Ciro/Katia Abreu e, até, Marina/Eduardo Jorge.

E não falta lastro, porque o lastro é Lula.

Mas não é só o lado “marketing” que anima. É, também, o ideológico.

Afinal, são duas pessoas que deixaram de lado o que poderiam ter sozinhas para se atirarem numa empreitada difícil e perigosa, tanto quanto necessária, de se emprestarem ao bombardeio em nome do direito de representação do povo brasileiro.

Neste século de egoísmo, não é pouca coisa.