É preciso dar fim à política de privatizações, diz economista

A economia só voltará a crescer quando o Estado brasileiro recuperar a sua capacidade de investimentos. A avaliação é do economista Marco Antonio Rocha, professor da Unicamp. Para ele, é necessário “dar fim à política de privatizações” e revogar o teto de gastos.

Marcos Rocha

"Nosso diagnóstico pós-crise é de que o dinamismo só vai se recuperar com a intervenção do Estado, com capacidade de fazer investimento público", disse em sabatina do Estado de S. Paulo em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Segundo Rocha – que compõe a equipe do presidenciável Guilherme Boulos (Psol) -, um plano emergencial factível tem de ser pensado não apenas para solucionar a questão de emprego e renda a curto prazo, mas também “precisa ser estruturante, para um médio e longo prazo."

Crítico da política de austeridade fiscal que passou a ser implementada a partir de 2015 e aprofundou-se nas gestões Michel Temer, ele defendeu que o Estado precisa recuperar seus mecanismos de intervenção na economia, referindo-se às empresas estatais e aos bancos públicos, que estão na berlinda no atual governo.

"Entendo que o momento é mais favorável ao uso de bancos públicos, uma vez que há a necessidade de o Estado voltar a investir para alcançarmos a recuperação econômica", afirmou. Na sua avaliação, o BNDES é um instrumento fundamental para impulsionar o crescimento econômico e a produtividade da economia brasileira.

Ele afirmou ainda que o BNDES pode focar no investimento de empresas de alta tecnologia. "O BNDES tem uma certa cara de segunda revolução industrial, voltado para indústria. Precisamos mudar o paradigma tecnológico, focar o BNDES na indústria 4.0", disse.

O economista defendeu ainda que o regime fiscal tem que ser “menos fiscalista” e “dar mais abrigo” a uma política de desenvolvimento. “Queremos colocar uma política que permita ao Estado atuar de forma contracíclica contra a crise, com capacidade se investimento a longo prazo. Passar para um planejamento orçamentário plurianual, e não mirando metas de superávit".

Rocha também apontou a necessidade de revogar a emenda constitucional 95, que implementou o teto de gastos. “Isso será uma questão de governabilidade para qualquer governo eleito para o ano que vem”.

Ele advogou também por uma reforma tributária progressiva, com diminuição de impostos sobre consumo e aumento da carga sobre patrimônio e renda.

De acordo com o economista, o Banco Central deveria trabalhar não só para controlar a inflação, mas também para também responder pelo emprego. Ele criticou ainda a forma como são escolhidos os presidentes do BC.

"Atualmente, acontece no Brasil o que chamamos de 'porta giratória', ou seja, o executivo sai de um grande banco e já vai para o BC. Acreditamos que, assim como é preciso passar pela sabatina no Congresso, é necessário impor uma quarentena".