País herdou indolência do índio e malandragem do africano, diz Mourão

O candidato à vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro (PSL), o general da reserva Hamilton Mourão, confirma que a afinidade com o discurso ultradireitista vai além das questões militares. Mourão disse que o Brasil herdou a cultura de privilégios dos ibéricos, a indolência dos indígenas e a malandragem dos africanos.

(Foto: Marcelo Casagrande/Agência RBS)

A declaração foi feita em um evento em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, quando Mourão falava sobre as condições de subdesenvolvimento do país e da América Latina.

"E o nosso Brasil? Já citei nosso porte estratégico. Mas tem uma dificuldade para transformar isso em poder. Ainda existe o famoso ‘complexo de vira-lata’ aqui no nosso país, infelizmente", disse Mourão. "Essa herança do privilégio é uma herança ibérica. Temos uma certa herança da indolência, que vem da cultura indígena. Eu sou indígena. Meu pai é amazonense. E a malandragem. Nada contra, mas a malandragem é oriunda do africano. Então, esse é o nosso cadinho cultural", declarou.

A afirmação não surpreende já que Mourão defendeu a intervenção militar como solução para a crise política. Mas evidencia o pensamento fundado da visão escravagista de quem tem pretensões de governar o Brasil.

"Não, o que o Brasil herdou, como demonstra a fala do general, foi um racismo abjeto, oriundo de mais de 300 anos de escravidão", comentou Manuela d'Ávila (PCdoB-RS) em sua página nas redes sociais comentando a declaração do general.

Guilherme Boulos, candidato a presidente pelo Psol disse que Bolsonaro e Mourão "se merecem". "Quando o preconceito se junta com a estupidez o resultado é esse", criticou.

Bolsonaro, por sua vez, deu o tom de como será a campanha com o vice. "Ele que explique para vocês, se é que ele falou. Eu não tenho nada a ver com isso", disse.

Formação do Brasil

Para entender porque a declaração de Mourão é uma aberração é preciso recorrer à história. De acordo com o antropólogo Darcy Ribeiro, autor de "O Povo Brasileiro", uma das obras mais importantes sobre a formação do Brasil, destaca que a versão de Mourão está longe de ser a realidade. Segundo o antropólogo, a trajetória do país foi marcada por uma história de violência nos trópicos brasílicos com os conflitos sangrentos entre aldeias indígenas, ou seja, afastando a tese de índio indolente.

Ainda segundo Darcy Ribeiro, a chegada dos europeus intensificaram as guerras e a resistência negra foi o inimigo número um do sistema escravista. “A distância social mais espantosa do Brasil é a que separa e opõe os pobres aos ricos. A ela se soma a discriminação que pesa sobre índios, mulatos e negros”, Afirmou Darcy no livro.

As declarações de Mourão foram feitas durante almoço da Câmara de Indústria e Comércio de Caxias do Sul, sendo a primeira agenda de campanha como vice de Bolsonaro. O general disse que seu comentário não foi racista.

"Quiseram colocar que o Bolsonaro é racista, agora querem colocar em mim. Não sou racista, muito pelo contrário. Tenho orgulho da nossa raça brasileira", garantiu. "O que eu fiz foi nada mais nada menos que mostrar que nós, brasileiros, somos uma amálgama de três raças, a junção do branco europeu com o indígena que habitava as Américas e os negros africanos que foram trazidos para cá", justificou.