Lu Castro: Falar de Marta por 12 anos é sinônimo de inércia

E lá vamos nós, mais uma vez, exaltar a indicação de Marta para o Prêmio FIFA e usando o fato para cutucar a falta de sucesso da seleção de Tite na Copa da Rússia. Uma coisa é uma coisa, meu povo! Outra coisa é outra coisa e é hora de aprofundar o discurso que a grande mídia adora “adotar” pra fazer média.

Por Lu Castro* 

Marta- futebol

Decorreram 12 anos desde que a expoente da penúltima geração do futebol feminino brasileiro conquistou sua primeira bola de ouro. São 12 longos anos em que Marta figura como ícone de um futebol prodigioso, digno de nota e orgulho para a combalida modalidade em terras brasileiras.

Decidi por opção e manutenção da saúde estomacal, conceder pouca ~quase nula~ atenção ao futebol feminino desde a demissão de Emily Lima e o retorno de Vadão ao comando da seleção. Repito o que disse à época: O modo como tudo se deu ainda não desceu e retomar o “trabalho” de Vadão, significa a manutenção de nada de novo. Posto isto, vamos ao argumento para o título do texto desta semana.

Marta iniciou sua trajetória na seleção principal em 2003 conquistando a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos em Santo Domingo. Nada mal para alguém que havia disputado o Mundial Sub-19 no Canadá no ano anterior.

Desde que concorreu pela primeira vez ao prêmio, em 2004, em apenas uma ocasião Marta teve uma brasileira ao seu lado entre os três primeiros lugares: Cristiane em 2008. Nunca mais, desde a criação do prêmio para as mulheres, outra brasileira chegou tão longe. E este é o problema.

Não precisa de muito esforço para verificar as demais indicações e a caminhada das outras indicadas. Claro que o tempo de manutenção da mulher em campo tem se mostrado mais longa, e, ainda que comparemos os anos em que Mia Hamm e Birgit Prinz concorreram e levaram o primeiro lugar ou ficaram com o segundo, tem muito a ver com essa nossa longevidade, mas todas as demais nações que mantem o futebol feminino em alto rendimento e em RENOVAÇÃO, modificaram seus quadros de indicadas.

Devemos celebrar Marta, mais uma vez, em 14 anos, entre as 10 melhores do mundo? Tão óbvio quanto celebrar o fato de que somos os únicos com cinco títulos mundiais. Entretanto, convoco os interessados no tema a uma reflexão:

– De que modo estamos trabalhando a renovação de nossa seleção tomando como parâmetro a seleção das indicadas ao prêmio?

– O que estamos apresentando de novo ao mundo da modalidade, se ~e não estou apontando demérito de Marta, que fique claro!~ é Marta quem representa o Brasil depois de 14 anos desde sua primeira vez entre as 3 melhores?

– Aonde está o trabalho de excelência proposto pela CBF, que não conduz nenhuma outra atleta às dez indicações iniciais? Sem contar, claro, algum sucesso real dentro e fora dos limites territoriais em nível mundial.

Não é possível que sigamos enaltecendo nossa inércia futebolística diante do planeta sem ao menos fazer uma avaliação profunda do que estamos propondo como base fundamental de formação atlética de nossas meninas. E vou além: como anda a formação para o coletivo em TODOS os aspectos envolvidos no futebol? Não, não vou repetir o que falo há uma década.

A inércia e uma certa satisfação em seguir tratando dos mesmos temas, não faz parte dos meus planos. Enquanto não há uma mudança real de comprometimento, não há razão para que eu entregue minha preciosa energia combatendo ideias tão bem apoiadas em falácias. Se caminho agora com outros focos, minha intransigência segue intacta. Ou melhoramos ou teremos apenas Marta para contar história. E por tantos talentos que temos e tempo adiante, isso é pouco.

E não me contento com pouco quando sei que temos muitas Martas invisíveis nesse Brasilzão de meu Deus.