"Brasil não tem política de segurança pública", diz ministro de Temer

O ministro da Segurança Pública Raul Jungmann admitiu que o governo não tem uma política nacional de segurança pública. Ele disse ainda que o sistema penitenciário é um dos maiores problemas da violência e que o Rio de Janeiro, mesmo sob intervenção militar, vive uma “metástase”, com o domínio do crime organizado.

Temer e Jungmann

As declarações foram dadas durante debate organizado pelo jornal Estadão, nesta quarta-feira (25), em São Paulo, que tratou de alternativas para a segurança pública no país. Em 11 de junho deste ano, o mesmo ministro disse em cerimônia do Planalto com a participação de Temer que o governo estava dando um rumo para a segurança pública.

Na assinatura de criação do Sistema Único de Segurança Pública (Susp) e da medida provisória que permitiu que a área da segurança pública tivesse orçamento permanente, tal como ocorre com a saúde, a educação e na área previdenciária, Temer afirmou: “Hoje damos um passo importantíssimo para garantir mais tranquilidade aos brasileiros. Temos que levar adiante a ideia da integração […] Queremos fazer fazer a interação com os estados a partir de uma coordenação do governo”.

Agora, no evento do Estadão, o ministro Jungmann diz o contrário. “O Brasil não tem política nacional de segurança pública. Se olharmos as sete Constituições, nunca conseguimos ter um rumo para a segurança pública, ela sempre foi concebida como responsabilidade dos Estados”, afirmou o ministro “Temos um federalismo acéfalo e a segurança pública carece de rumo”, disse ele sem apresentar solução para o problema.

O ministro chamou o sistema penitenciário de “pesadelo”. “Estamos criando um monstro para nos devorar", disse o ministro de Michel Temer.

Num período eleitoral em que o tema segurança pública é o mote de campanha de alguns candidatos sob a tese de que "bandido bom é bandido morto", o ministro informa que há cerca de 70 facções criminosas atuantes no Brasil, a maior parte presente nas cadeias. “Quando entra no presídio, todo jovem para sobreviver tem de fazer um juramento e fazer parte de uma facção”, diz.

Apesar de comandar uma secretaria responsável por estabelecer as diretrizes da segurança no país, tendo a intervenção do Rio como modelo de ação do governo, o ministro admite que esse foco está fadado ao fracasso. “Fala-se muito de repressão, mas o coração da tragédia está localizado numa juventude de periferia de 15 a 24 anos. Eles têm três vezes mais capacidade de matar e morrem três vezes mais. Têm baixa educação, pouca renda e geralmente vêm de lares desagregados”, disse.