Diálogos de paz da Colômbia estão presos entre dois governos

O chefe da delegação dos diálogos de paz do ELN (Exército de Libertação Nacional), Pablo Beltrán, disse nesta quinta-feira (19) o processo está travado entre o encerramento do governo de Juan Manuel Santos e o início da gestão de Iván Duque. O presidente recém eleito é o sucessor do uribismo e já afirmou não ter interesse em dar continuidade às negociações pelo fim da guerra.

Pablo Beltrán - Divulgação

“O governo que está chegando disse que vai estraçalhar o processo de paz, então esta mesa [de dálogos] ficou presa entre esses dois projetos: um diz que é necessário dar continuidade [Santos], o outro diz que deve encerrá-lo [Duque]. Isso tem causado retrocessos na negociação e impactou sobre toda a delegação do governo que entrou em modo de trabalho mais lendo”, afirmou Beltrán.

O ELN é o último grupo guerrilheiro da Colômbia, desde que as Farc deixaram as armas e se converteram em partido político. De acordo com o porta-voz, a guerrilha está disposta a buscar uma saída negociada que repare os danos em ambas as partes, como aconteceu no acordo de paz entre o governo e as Farc.

“Neste momento estamos queimando o último cartucho, acelerando para ver se neste curto tempo conseguimos deixar o acordo com o governo; um ponto diz respeito a um novo cessar-fogo bilateral e outro mantém a disposição sobre o diálogo nacional”, explicou o comandante guerrilheiro.

A delegação da guerrilha tem reafirmado que o grupo tem toda disposição de mudar sua essência e deixar de ser uma organização insurgente armada, mas para isso, precisa de uma reposta sólida do governo de se comprometer em acabar com a violência política.

Para isso, Beltrán alerta que é necessário celeridade no processo, de forma a consolidar alguns pontos mais delicados até a chegada do próximo governo.

Durante a campanha presidencial, o novo presidente eleito, Iván Duque, afirmou reiteradas vezes que não tem interesse em manter o acordo de paz com as Farc, nem em avançar no processo com o ELN. A Colômbia é marcada por mais de 50 anos de guerra e levou quase meia década para conseguir estabelecer um documento razoável com a até então maior guerrilha do país.

Se Duque não mostrar vontade política de avançar com as negociações com o ELN, tudo o que foi conquistado até aqui pode ruir e o país se afundar novamente em uma onda de violência.