Clínicas populares sobrecarregam SUS e mercantilizam saúde

O desmonte do Sistema Único de Saúde (SUS) e os altos preços e restrições praticados por planos de saúde têm resultado no aumento do número de clínicas populares em bairros centrais e periféricos na cidade de São Paulo. Para especialistas, a oferta de consultas e exames com valores abaixo do mercado mascara a mercantilização da saúde e sobrecarrega ainda mais o SUS.

Deputados recorrem à Câmara para barrar medidas que lesam usuários de planos de saúde - Reprodução da Internet

Segundo o conselheiro municipal de Saúde da região do Sacomã, Manoel Otaviano da Silva, o atendimento prestado por essas clínicas populares responde apenas às queixas momentâneas dos pacientes que, por não terem um acompanhamento posterior, voltam ao SUS. Para Silva, é uma "ilusão" classificar esse setor como uma alternativa. "Se alguém tiver, por exemplo, que fazer um exame mais elaborado ou tratar uma doença crítica mais prolongada, esse tipo de clínica não dá continuidade e manda de novo para o SUS. Então, o SUS paga a conta duas vezes", afirma.

O sociólogo Ricardo Jurca, doutor pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP), traz dados de uma pesquisa sobre as clínicas populares no bairro de Heliópolis, na zona sul da capital paulista, e revela que esses empreendimentos recebem financiamentos de empresas estrangeiras e aporte do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). "Eles receberam R$ 75 milhões do BNDES, um dinheiro que poderia ser direcionado para o Sistema Único de Saúde que, aliás, tem um financiamento congelado por vinte anos, o que é uma contradição", avalia o sociólogo, que também critica a falta de regulação do setor.

Para o conselheiro, é preciso lutar por mais verbas do governo para a saúde pública. "Independente de o cara ser miserável ou milionário, o SUS tem que ser para todos. A saúde não é mercadoria, não é?", questiona Silva.